domingo, 30 de março de 2008

Táxiiii

Como roqueiro sofre no Rio de Janeiro.

Quinta-feira, cinco para 'as dez da noite, quase fico trancada no escritório.
A abertura dos portões estava marcada para oito horas.
O show era no circo voador e apesar do tradicional atraso dos shows lá, naquele dia seria diferente.

Contando com a banda de abertura que já tinha tocado, teria mais uma banda e após o Matanza.
Eu realmente estava atrasada.
Correndo pela rua, não sabia se pegava um táxi ou ía de Metro, afinal, o Metro do Rio funciona, ou vocês nunca leram atrás do "metrô de superfície" que maravilhosamente vai até a Gávea?

Imaginei todos os sinais vermelhos que teria que enfrentar de Copacabana até a Lapa dentro de um táxi, seria uma boa maneira de passar o tempo, contar quantos existiam, mas me imaginei contando sinais e perdendo a contagem por causa da primeira fechada que o taxista desse ou levasse. Lembrei que alguns são evangélicos e colocam o culto na rádio, nada contra a religião, só não entendo o motivo do passageiro ter que ouvir aquilo nas alturas. Certa vez o taxista, Francisco, quase que me obrigou a rezar um louvor de não sei o que junto com ele no carro, só porque era a "hora do senhor", e eu, como estava de bem com a vida, não pedi para que ele desligasse o rádio ao entrar no carro. Lembrei dos taxistas garotões que te enchem com todas aquelas gírias e o tecno ou, nobudi waanna si us tugueder justamente quando você acaba de ouvir a mesma música numa loja e saiu correndo para não ficar com o maldito fight for a right to love, ou o unh, uhn, cantado entre o refrão.
Além do mal humorados que só reclamam da mulher, do filho, do passageiro.
Tem também os estudados.
já peguei taxista dizendo que caiu na praça, pois não havia emprego para o alto currículo dele, que havia trabalhado em altos bancos de investimento, quase acreditei, estava extremamente sensibilizada com a estória quando, escuto em alto e bom som - Muito fustrado eu estive!
Como ? O que o senhor disse?
-É muito fustrante a situação do Brasil
Ah sim, sei, realmente.

Resolvi pegar o Metrô, assim não teria que falar com ninguém.

Na cabine de compra do bilhete.
Peço educadamente, escondendo a minha insatisfação por não existir uma máquininha que eu pudesse enfiar uma nota de dois reais e pegar meu bilhete, como acontece nas grandes cidades do mundo.

- Um bilhete por favor!
- Qual vc quer?
- Como assim?
- Integração, simples, duplo...
- Ah sim, simples por favor.

Agradeço e saio correndo pelas escadas.
O trem demora, demora, e só têm homens na estação.
Aproveito para ler um pouco do meu livro.

Salto na Cinelândia, do lado da Lapa, de táxi, em alguns minutos estaria no Circo.
Entro no táxi.
- O senhor me leva na Lapa por favor?
- Ah, daqui até a Lapa é quinze conto, não vou dar essa volta toda pra deixar você aqui do lado por menos que isso!
Vai ou não vai?

- Não vou não, está achando que rasgo dinheiro?

A saída do Teatro Municipal estava lotada, todo mundo queria um táxi, provavelmente para voltar para a Zona Sul.
Claro, ninguém iria pegar um táxi para a Lapa saindo do Municipal.

Andei alguns metros e afastada do buxicho entro no segundo táxi.

- Ai que bom, está difícil de arranjar táxi, vim de metrô pois estou atrasada.
- Ah, tem alguma coisa no Municipal?
- Não sei, acho que sim. O senhor entra a direita e me deixa na Lapa?
- Você deve estar de brincadeira com a minha cara né? Fazendo eu perder um passageiro de corrida longa.
-Vai andando é aqui do lado.

Saio do táxi com vontade de xingar, mas respiro, afinal era um velhinho, mal educado, mas velho.
Só resmugo.- Por isso que o Rio de janeiro está desse jeito.

Vou andando, não vou discutir com um próximo taxista.
Entro na Senador Dantas, viro a direita, num beco sinistro me imagino subindo a rua que vai dar nos arcos e todos aqueles trombadinhas mais sinistros ainda.
Páro no ponto de táxi e pergunto.
- O senhor não quer sair do ponto e me levar na Lapa também? Pois está esperando uma corrida longa...

E o senhor de meia idade, abre a porta para mim e é super simpático
- Que isso imagina, estou aqui para levar o passageiro onde ele desejar ir.
Ufa, até que enfim! o senhor é o terceiro taxista que falo hoje.

Chego no Circo, a corrida que era de cinco reais, dou oito e agradeço.

O show foi ótimo!

" O diabo prometeu você pra mim.
Eu prometi que eu vou fazer você sofrer.
Eu tenho a eternidade toda pra fazer
Isso daqui ficar pior."

E eu só conseguia pensar nos malditos taxistas! E no metrô de mentira do Rio de Janeiro

Arranjar um taxista "decente" quando você mais precisa é um jogo de azar no Rio de Janeiro.



MK

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