domingo, 30 de março de 2008

Táxiiii

Como roqueiro sofre no Rio de Janeiro.

Quinta-feira, cinco para 'as dez da noite, quase fico trancada no escritório.
A abertura dos portões estava marcada para oito horas.
O show era no circo voador e apesar do tradicional atraso dos shows lá, naquele dia seria diferente.

Contando com a banda de abertura que já tinha tocado, teria mais uma banda e após o Matanza.
Eu realmente estava atrasada.
Correndo pela rua, não sabia se pegava um táxi ou ía de Metro, afinal, o Metro do Rio funciona, ou vocês nunca leram atrás do "metrô de superfície" que maravilhosamente vai até a Gávea?

Imaginei todos os sinais vermelhos que teria que enfrentar de Copacabana até a Lapa dentro de um táxi, seria uma boa maneira de passar o tempo, contar quantos existiam, mas me imaginei contando sinais e perdendo a contagem por causa da primeira fechada que o taxista desse ou levasse. Lembrei que alguns são evangélicos e colocam o culto na rádio, nada contra a religião, só não entendo o motivo do passageiro ter que ouvir aquilo nas alturas. Certa vez o taxista, Francisco, quase que me obrigou a rezar um louvor de não sei o que junto com ele no carro, só porque era a "hora do senhor", e eu, como estava de bem com a vida, não pedi para que ele desligasse o rádio ao entrar no carro. Lembrei dos taxistas garotões que te enchem com todas aquelas gírias e o tecno ou, nobudi waanna si us tugueder justamente quando você acaba de ouvir a mesma música numa loja e saiu correndo para não ficar com o maldito fight for a right to love, ou o unh, uhn, cantado entre o refrão.
Além do mal humorados que só reclamam da mulher, do filho, do passageiro.
Tem também os estudados.
já peguei taxista dizendo que caiu na praça, pois não havia emprego para o alto currículo dele, que havia trabalhado em altos bancos de investimento, quase acreditei, estava extremamente sensibilizada com a estória quando, escuto em alto e bom som - Muito fustrado eu estive!
Como ? O que o senhor disse?
-É muito fustrante a situação do Brasil
Ah sim, sei, realmente.

Resolvi pegar o Metrô, assim não teria que falar com ninguém.

Na cabine de compra do bilhete.
Peço educadamente, escondendo a minha insatisfação por não existir uma máquininha que eu pudesse enfiar uma nota de dois reais e pegar meu bilhete, como acontece nas grandes cidades do mundo.

- Um bilhete por favor!
- Qual vc quer?
- Como assim?
- Integração, simples, duplo...
- Ah sim, simples por favor.

Agradeço e saio correndo pelas escadas.
O trem demora, demora, e só têm homens na estação.
Aproveito para ler um pouco do meu livro.

Salto na Cinelândia, do lado da Lapa, de táxi, em alguns minutos estaria no Circo.
Entro no táxi.
- O senhor me leva na Lapa por favor?
- Ah, daqui até a Lapa é quinze conto, não vou dar essa volta toda pra deixar você aqui do lado por menos que isso!
Vai ou não vai?

- Não vou não, está achando que rasgo dinheiro?

A saída do Teatro Municipal estava lotada, todo mundo queria um táxi, provavelmente para voltar para a Zona Sul.
Claro, ninguém iria pegar um táxi para a Lapa saindo do Municipal.

Andei alguns metros e afastada do buxicho entro no segundo táxi.

- Ai que bom, está difícil de arranjar táxi, vim de metrô pois estou atrasada.
- Ah, tem alguma coisa no Municipal?
- Não sei, acho que sim. O senhor entra a direita e me deixa na Lapa?
- Você deve estar de brincadeira com a minha cara né? Fazendo eu perder um passageiro de corrida longa.
-Vai andando é aqui do lado.

Saio do táxi com vontade de xingar, mas respiro, afinal era um velhinho, mal educado, mas velho.
Só resmugo.- Por isso que o Rio de janeiro está desse jeito.

Vou andando, não vou discutir com um próximo taxista.
Entro na Senador Dantas, viro a direita, num beco sinistro me imagino subindo a rua que vai dar nos arcos e todos aqueles trombadinhas mais sinistros ainda.
Páro no ponto de táxi e pergunto.
- O senhor não quer sair do ponto e me levar na Lapa também? Pois está esperando uma corrida longa...

E o senhor de meia idade, abre a porta para mim e é super simpático
- Que isso imagina, estou aqui para levar o passageiro onde ele desejar ir.
Ufa, até que enfim! o senhor é o terceiro taxista que falo hoje.

Chego no Circo, a corrida que era de cinco reais, dou oito e agradeço.

O show foi ótimo!

" O diabo prometeu você pra mim.
Eu prometi que eu vou fazer você sofrer.
Eu tenho a eternidade toda pra fazer
Isso daqui ficar pior."

E eu só conseguia pensar nos malditos taxistas! E no metrô de mentira do Rio de Janeiro

Arranjar um taxista "decente" quando você mais precisa é um jogo de azar no Rio de Janeiro.



MK
Pérolas que podem ser ditas quando amigas de 15 anos se encontram

- Amiga, chave de fusca não abre Mercedes.

Entreouvido por aí

- "Não senta não , filha! Aproveita pra malhar perna!"
Mãe instruindo a filha de dez anos no banheiro do bar Garota da Urca.

"Olha mãe, igual a Alzira!!!"
Menina de cerca de cinco anos, refeindo-se `a personagem de Flávia Alessandra na novela "Duas caras", enquanto se enroscava num dos ferros que sustenta o toldo da Pizzaria Guanabara, no Leblon. -

Revista O Globo, 30 de março.

Sempre passo os olhos nessa sessão da revista e muitas vezes dou risadas.
Mas hoje ficou meio difícil com essas duas frases.
Que mulheres estão criando essas crianças?
Que mundo é esse onde criança vira um mini adulto aos olhos de todos e tudo parece muito normal.
Lembro agora de minha querida amiga Karen, contando sobre um festival de teatro infantil na França e das apresentações de dança de cada país. Crianças como o reflexo de uma cultura. A brasileira, lógico, rebolava e mostrava toda a sensualidade nos seus poucos dez anos de idade.

Sempre tive a impressão que mesmo com toda essa revolução libertária da mulher, continuamos sim, sendo muito mal criadas. Mal criadas pelas mães que sempre perguntam mais dos namorados do que como estamos nos sentindo.
Mal criadas, pois numa conversa de bar, sempre tem uma mulher completamente dependente de um homem.
Criadas, não para ter auto-estima, e sim para sermos desejáveis.

Isso é um insulto a alma feminina.
Quando digo que não gosto da febre "Sex in the city", e todas me olham com desdém, é justamente por isso.
Vi umas duas vezes e acho que aquela porcaria reduz a alma feminina a sexo, dependência, e futilidades.
Não sou intelectual, gosto de fazer compras, gosto de namorar, brigo com a balança, tenho dias carentes, mas não gosto e não aceito me reduzirem a isso.
Ataco a geladeira de madrugada, acredito na construção de uma família, adoro quando abrem a porta do carro para mim, mas também gosto de ler poesia, amo poder pagar as minhas contas, fico mega feliz quando meu trabalho é reconhecido,
sofro pelas crianças no sinal, tenho sonhos acordada, e desejo a liberdade.
A liberdade de poder ver crianças sendo criadas como crianças e não sendo metralhadas o tempo todo com as frustrações dos pais.
Um assassinato!

As próprias mulheres estão esquecendo da alma feminina e matando a verdadeira beleza em prol de criar seres desejáveis, que serão facilmente consumidos e quando cheios de vazio, poderão consumir os outros, as coisas, cada vez mais.
É isso, alimentando essa doença moderna.


Posso completar o entreouvido por aí...

"Sorvete engorda muito minha filha, assim ninguém vai te querer."
mãe para uma menina linda de uns sete anos, na fila do supermercado Zona Sul, Leblon.

"Você não conseguiu nem segurar um marido heim? Esse teu gênio..."
Avó falando pra neta separada, pois o marido era alcoólatra.

"Igual a esse você não vai arranjar!"
Mãe, aconselhando a filha de treze anos a não terminar com o namorado

Onde isso vai parar?

Estou com pena dos homens. A mulher moderna quer independência, mas acha um absurdo ele não pagar as contas, quer que ele abra a porta do carro, mas quer ir para Micareta com as amigas. Quer que ele seja romântico e mande flores, mas não abre mão de dizer que o Marcinho, aquele amigo incrível, que provavelmente dá em cima dela, é um cara ótimo!
Quer todos os outros homens olhando para ela na Boate, mas não quer o homem "dela" olhando para o lado.

Eu mesmo, perdi o referencial do que é ser uma mulher moderna e joguei no lixo o amor de um homem de verdade por pânico em não querer ser uma mulherzinha. Pânico em não ser apenas mais um par de pernas.

Vamos criar crianças melhores, por favor.

Maíra Knox

Deu no O Globo ontem: 273 mil acidentes no trabalho infantil.

sexta-feira, 28 de março de 2008

E o urubu...

Pedro atrasado.
Na esquina Wendy.

- A situação está preta.
matando cachorro a grito e
urubu a pernada.
Já dizia o vendedor de chicletes.

Uma mulher qualquer
numa esquina qualquer
querendo garantir a ele que nunca mais o fará sofrer.
Não consegue.

Wendy respira na confusão
quando os anseios não mudam,
uma calmaria.

Pedro, simples,
invasor.
Feliz.

O cachorro passou,
ela não gritou.

E a pernada,
o maldito destino se encarregou.

MK

Em agradecimento

Pela manhã
48 horas sem dormir
quis me matar.
Ensaiei 4 opções
todas sem glamour ne-nhum.

Atravessar a rua.
Do alto do prédio.
um tiro, só se alguém apertasse o gatilho.
Afogada não era uma opção.

Cinco quarteirões,
uma da tarde.

Lembrei que não podia.
A arte do disco não foi enviada.

Obrigada, salvastes hoje,
um final cliché de quinta.

MK

Sem poesia

Dizes que não entendes meus escritos.
Digo que não entendes
o choro, a falta de palavras, o beijo.
A carne marcada a ferro e fogo
as camadas todas da derme abertas, expostas.

Sem poesia.

Só sangue disforme
apodrecendo todo o resto
Um Band-aid
quem sabe há um ano atrás
Agora, rolos de esparadrapo

e litros de lítio.

ontem uma da madruga

Os teus olhos um caminho
os cavaletes impedem que os olhos se fechem.
Os muros derretendo na fachada colorida
Pedras e portas
Obras a 20 metros
Estatelando sacos e restos.

Das cores do rádio

o tempo no relógio
viscosidade do muro.

Os lugares trocados
a raiva
espaço a tristeza.

Nos córregos água fria,
saia curta num borrão negro,
pó de arroz nas canelas
magenta lavado nos pés
o cinza do céu lhe parece azul
das cores do rádio só o ímpeto

É só mais um rei sem rainha.

Inventando

Há tempos não te ferem.
sobrevive, na agenda, nos afazeres.
Saudades de um amor.
Inventando então.
Um amor mal resolvido.

Todos sempre serão.

Daqui a dez anos nos encontramos,
quando voce descobrir
que nada é tão fixo assim.
Achou o que voce queria.

E eu estarei sempre a procura.
A procura sim, de algo complementar e menos disputa.
do respeito.
Essa é a diferença entre amantes.

com respeito,
errando sim,
mas tentando.


MK
apesar dos pesares...

continua, do mesmo jeito insano!

reduzindo a pó

Enquanto me reduzires a isso.
nada poderá ser feito, falado, sentido.
Vivido.

Sem se despedir repete tudo a todo instante.
Não te compreendo.
Penso no travesseiro, o que vale um dia a menos de brigas e desajustes.

Não se despedes, pois dizes que há muito, fiz minha escolha.

Escolhi sim, sem escolhas, sem caminho, sem enxergar.

Queria a tua simplicidade.
Hoje eu a tinha, amanhã, não respondo por mim.

Dormes, um sono tranquilo do fazer a coisa certa,
enquanto me reviro inteira e jogo fora os quilos de análise,
as horas de sofreguidão,
os tubos de dinheiro,
os litros de lágrimas
que derramei,
por não ser do jeito que tu amavas.

pó.


Mk

Tudo está cauterizado para voce

Não tem estória.
Tudo está cauterizado.
Vivendo o seu romance.A Pessoa que voce ama.
Não faço questão de te esculaxar.
Te amo demais.
Voce fez questão de destruir tudo que poderia existir.
Pois assumo minha responsabilidade, loucura total.
Se faz de uma filha da puta.
Propriedade.
Ele cansou, está cauterizado,
ele vive um romance e ainda se acha no direito de te recriminar.
Tentei te vender a minha verdade.
Doida, aloprada.
Mais ajuda, compreensão, não terás nunca.
Ele não é cruel.
Vive um romance.
Andando pela rua.
A minha vida.
é isso que você faz.
Questão de trair.
Uma mulher louca e fazes dez vezes mais.
e vive um romance.

Então, amor tem mesmo prazo de validade.
O seu venceu.
O meu é eterno.
na saúde e na doença,
na alegria e na tristeza.

Para o resto de uma eternidade.


de longe,
te amando sempre.

quarta-feira, 26 de março de 2008

A banheira Branca

A banheira Branca antiga no centro da sala.
manhã de domingo, claridade entrando pelas janelas.

Uma casa incomum, um lugar escondido na serra e o silêncio que dói os ouvidos, uma mulher sozinha.

A entrada da casa era pela perna do L, duas portas, de madeira maciça, no centro delas, a altura dos olhos, duas janelinhas de vidro, um pequeno gradil de ferro. Abertas as portas, o pé direito alto, uns sete metros, do lado direito a escada com degraus "flutuantes" levava ao segundo andar, estruturas de ferro aparentes.

Ao lado esquerdo da entrada um cabideiro para colocar os casacos, mais adiante dois sofás um branco e outro preto, em ambos, almofadas vermelhas, um de frente para o outro, deixando livre o corredor, vinte passos sem nenhum objeto, chegamos ao encontro dos dois retângulos, neste vértice, ao lado esquerdo a parede inteira de vidro e a frente dela um piano de cauda, preto, fechado, e empoeirado. O único objeto que ela não tocava, não limpava e não esbarrava, apenas olhava, todos os dias ao se levantar. Ao lado esquerdo era possível avistar a outra parede em vidro. Pé direto mais baixo em função do segundo andar. Cinco degraus abaixo um vão de uns 6 metros de largura onde ficava a tal banheira, atrás dela uma estante cheia de livros, nenhum quadro nas paredes, apenas uma tela em frente a banheira, sem moldura, fixada com pregos, há tempos está ali, fora preparada por ela que dizia não ter achado a tinta certa para pintar, o que na verdade era uma grande mentira, faltava lhe a inspiração, faltava lhe a cena perfeita.

Cinco degraus subindo, era possível atravessar a casa, e chegar a cozinha, entre os cinco degraus descendo e os cinco subindo, onde a estante, a banheira e a tela se encontravam, formava se um buraco que invariavelmente quebrava o acesso direto a cozinha. Pois bem, passada a banheira, cinco degraus acima estava a cozinha com uma geladeira antiga, um fogão moderno, desses de resistência e uma mesa enorme, suas seis cadeiras, acompanhando a parede frontal a tal inteira em vidro. Logo, imaginando um retângulo, temos nas duas paredes opostas janelas de vidro, onde era possível visualizar da cozinha o piano, mas não podia se avistar a banheira, escondida no vão entre os dois comodos que mais pareciam um só.
Nos dias de sol, aquele buraco refletia como as miragens do deserto, como se fosse um lago.
E ela ao olhar, saía porta a fora a procura do que fazer.
Nesses dias, ordenhava vaca pela manhã, cuidava dos cavalos, inventava afazeres como reconstruir a ponte que levava a cachoeira, fotografava borboletas, selava o cavalo, subia no alto da montanha e verificava as cercas. Cuidava da horta a tarde, colhia pitangas, fazia tudo, e só retornava a casa quando o úlimo raio forte de sol se retirasse e desse lugar ao magenta no céu.'As vezes esperava do alto da pedra do sétimo véu, a cachoeira mais distante da casa, os tons de cinza brotarem e tomarem o teto com estrelas para retornar.

Assim, chegava em casa, deixava as botas de lama na soleira da porta, e subia direto para o quarto.

Banho frio, pantufas quentes, camisola de cetim, e o olhar a janela, do teto ao chão, que emoldurava a cama de ferro, o colchão em lençóis de algodão 140 fios, sem bordados, sem cheiro, apenas brancos e extremamente esticados, quatro travesseiros, sendo dois mais baixos, debaixo de um, o sachet de camomila. Da cama se avistava todo o bosque de araucárias, umas nove no total, uma pequenina, e outras oito em diferentes tamanhos, mas todas muito mais altas que aquela. Agora poderia descer, fazer um chá, pegar um livro, preparar algo para comer e aquietar.

As cortinas de organza fina, brancas, bege clarinho e tons variados de lilás, exatamente iguais as da sala, esvoaçavam com o vento que batia após a hora do almoço. As janelas eram abertas todos os dias nos mesmo horários, pela manhã antes do sol nascer por inteiro, fechadas e novamente abertas após o almoço até o fim de tarde quando eram fechadas para que os mosquitos não entrassem.
Nas noites de calor e nas noites frescas também eram abertas, e assim permaneciam até o dia seguinte, antes do sol nascer.

Os dias e as noites se passavam de acordo com os reflexos casa. Através deles, o ritmo de atividades mudava.
Dias de sol intenso e miragens, atividades externas e fuga, dias normais, escrever seu romance, taças de vinho tinto, dias de muito frio, banhos longos na banheira, chocolate quente com rum e lareira a noite toda.
Quando o frio realmente apertava, ela lembrava que estava só.
Já no calor, enlouquecia.

Sábado a noite, chovia, do alto de seus ombros era possível avistar as gotas que mais pareciam pedras de sal grosso, o barulho no telhado avisava, a noite que estaria por vir.
Deitada, com o teto a imaginar quantas pedras de sal poderiam furar o cimento, passava o tempo desenhando na mente o formato de cada gota que caía, as via rasgando suas pernas, os olhos semi cerrados se protegiam.
Sentia o formigar no peito, como quando se entra numa cachoeira cujos jatos d'água modificam a forma da carne e adormecem a alma num momento de agonia curta e relaxamento profundo. Alternava a brincadeira, gotas que infernizavam, pingos que acariciavam.

Ele chegou, no meio da brincadeira dela, mas não parece ter atrapalhado, os faróis piscam, desliga o motor e ela desce correndo as escadas.
Casaco nas costas e guarda chuva nas mãos, sai porta a fora.
Ele com um sorriso desconfiado nos olhos tem a face imóvel, a linha da boca, escaldada por uma superficie rija.
Marcada pelo tempo, do tempo que não se viam, do quanto não se sentiam e de tudo que não se sabiam.
Entram os dois, mudos. Os nervos escondidos, ramificados como árvores, agora mostravam a seiva cristalizada, o peso dos anos.
Sem saber o que oferecer e onde colocar o jogo de ombros, do colo agora exposto em sua camisola, ela se enverga para frente, quase corcunda, tentando esconder os seios, tentando olhar através das costas, o que claramente não era possível, de costas, prepara um café.
Ele indaga em pensamento, desde quando ela começara a tomar café? E até mesmo fazê - lo. - Ela nunca soubera.
Ela, olhar baixo, atravessado, a espera da reação dele.
Ao primeiro gole o silêncio é quebrado.
O café estava pior do que antes.
E ambos desatam a rir, a falar desesperadamente, palavras desconexas, frases rudes, se xingam.
Ela parte para cima dele atacando com socos e ponta pés. Derrubam todos os potes da mesa, a moringa de água gelada cai no chão e antes que acabem com a cozinha inteira. Param, se olham nos olhos estranhos, não se reconhecem.
Silêncio.
Começa tudo novamente, o não saber onde colocar as pernas, a testa levemente franzida, o seio escondido.
Seus cabelos, agora mais ralos ainda escondem a face masculina e incógnita.
Ela que deixara de fumar, acende um cigarro, ele se encarrega de abrir o vinho.
Não sabe onde ficam as taças. Abre os armários, o que invariavelmente a irrita.
Três garrafas de vinho.
O tempo necessário para o acerto de contas no vazio do ar.

Começou pela cozinha, o cheiro, tocando e derretendo,
sobre os olhos, os cabelos,
pelas coxas molhadas,
lambendo as feridas do tempo e o umbigo dele
a carne branca,
Na escada,o polegar molhado na boca,
dedos ávidos
As unhas cravadas, o sexo
o sangue quente
envolvidos por horas e horas
os rostos virados, sem palavras, só sussuros,
Ela precisava gritar, sem testemunhas, só o êxtase e o amanhecer.

Nada nunca, tinha sido tão vulgar, quanto os olhares dos dois.

Nos lençóis o cheiro de sexo

Na cômoda da sala, um móvel pequeno, verde água, com várias gavetas e puxadores em formatos variados, mas todos com borboletas, ou na forma ou no desenho. Umas quatorze borboletas coloridas. As cortinas balançavam e traziam borboletas amarelas e outras azuis, invadiam a casa. Aquelas aprisionadas no móvel, voaram.
Agora todas as cores dançavam uma sinfonia, entre as cortinas lilás, brancas e beges.
Era a cena da tela que há anos ela esperava.

A banheira Branca antiga no centro da sala.
manhã de domingo, claridade entrando pelas janelas.
reflexo no vão,
assim, ao som do piano tocado por ele,
nos ouvidos debaixo d'água, a voz grave e rouca
ela resolveu se matar.
As borboletas pararam de dançar,
apenas os pêlos púbicos e os longos cabelos dançavam na água.

Maíra Knox

terça-feira, 25 de março de 2008

BBBOIEI

Chego em casa depois de um dia cheio de trabalho
e espero alguém que possa me explicar o que a Pitty está fazendo no BBB.
Agora para dar ibope colocam roqueiras?
Espero que semana que vem não tragam a Rita Lee...

Televisão está ficando perigosa mesmo.

MK

domingo, 23 de março de 2008

P.S: acabo de descobrir que ele tem um blog.
Onde eu andei esses anos todos sem blog?
Vou ler no livro mesmo.

A brilhante idéia

Depois de ler dois contos eróticos, um poema do Neruda e o sono não vir, resolvi ligar a maldita Tv
Qual canal colocar?
Passo pelo GNT, matéria na Cidade de Deus, com duas famosas que não sei o nome, uma freira que não é mais freira e casou virgem, uns skatistas em takes separados. O que me fez lembrar o dia que fui cair sem saber na CDD.Numa festa junina que na verdade era um baile funk do meio dos prédios caindo aos pedaços e eu com meu joelho doendo. Isso porque uns três dias antes, tinha batido de carro com um amigo e estava de molho em casa, aí uma amiga me liga e diz - Vamos pra festa do meu trabalho ? - detalhe ela trabalhava em Ipanema.
Quando dei por mim, estava na linha amarela e cinco minutos após a constatação do destino do carro, lá estava eu batendo bundinha e comendo salgadinho frito.

No multishow, o final do tramavirtual, com uma banda, que por questões de privacidade, não revelarei o nome,
era o meu "amigo", que ontem deixou uma mensagem um tanto quanto "maldosa", se é que me entendem, no meu bloco de autógrafos de pessoas não famosas.
Ou seja, como disse a ele, ele não podia autografar, já estava famoso demais!

E tenho uma brilhante idéia. Dessas que só surgem 'as quatro da matina e sem nada pra fazer.
Mandar um e-mail para o Multishow.
Explicarei melhor.

Dia desses um outro "amigo", entre aspas, pois é a designação usada para pessoas que se conhecem em shows, esticam o drink no Diagonal, adicionam no orkut e depois no Msn, então, esse " amigo" me disse que soube que estavam querendo mudar a cara do Multishow e que procuravam pessoas de atitude. Logo, ele de cara lembrou da minha pessoa. A primeira reação que tive - Só se for pra entrar no lugar da Fernada Young - Irritando Maíra Knox
ele - Ela é do GNT!
- Ah tá, eu sei! ( o que era uma mentira, pois a minha frequencia televisiva não é capaz de ser base para saber a qual canal cada apresentador pertence)
E o papo continuou
- Sem chance, não poderia ser completamente dirigida, já basta a metamorfose que tenho que enfrentar no trabalho.
Legenda:Trabalho com Moda, mas como designer sou uma música frustrada.
-hahahaha
- Eu poderia realmente fazer um programa, nesse estilo talk show, mas no primeiro que fosse ao ar, várias pessoas íam querer me matar.
Ele- hahahahaha! Eu daria tudo para estar no Ar
Eu- Só por um bom dinheiro e mesmo assim, dependendo do que fosse...
Ele - pois eu apresentaria um programa que falasse de sexo dos mosquitos na.......
(não lembro o nome do lugar que ele citou, mas na minha memória algo que soa parecido com tanzânia)
erreesses e erresses a parte. Até que não seria uma má idéia.
E o papo foi pra outro lado, offline e ponto.

Uma pessoa de atitude. Mal sabe ele que escrevo que nem uma condenada, justamente pra não ter muita atitude.
Fumo dois maços, para gastar menos atitude. E odeio deitar no travesseiro e o sono não vir.
Invento mil projetos, só faço se for com tesão e por dinheiro faço também, mas fatalmente demora bem mais pra terminar.
Penso em ligar o computador e aproveitar para fumar mais um cigarro, apesar de já ter escovado os dentes.
Procuro meu bloco de anotações, assim posso registrar meus argumentos e enviar apenas amanhã.
Penso nos vários personagens que poderia ser através da linguagem, tipo, escrever um trecho começando por caro fulano de tal e terminando em atenciosamente, o padrão de e-mail profissional. Separar a mensagem e criar outro - olha só, o negócio é o seguinte. e terminando em P.S:Não sabia que a Fernanda Young não era do Multishow.
Pensando bem, essas coisas só funcionam com indicação, nem tenho nada gravado, não sou atriz e nem quero ser, só queria um fixo para poder escrever, assistir a todos os shows que quero e não ter tanta nóia de administrar o tempo pra todas essas coisas.Penso nas pessoas que poderiam me indicar, tem algumas, mas descarto tudo, não combinaria comigo, ligar para uma delas, algumas já tem uns seis meses que não falo nem no orkut, vulgo, site para assuntos aleatórios e vazios, onde todo mundo está sempre feliz para karalho, com k mesmo, ou kkkkkkk.
Volto a pensar que seria melhor mandar um e-mail mesmo, através do incrível portal Multishow, com todos os links, meu fotolog, que também não entro há um tempo, meu orkut, cheio de restrições para os "everyones", meus blogs e talvez até o Myspace semi abandonado.Esse seria o meu perfil.
E nada de achar o meu bloco para anotações noturnas.Minhas brilhantes idéias de argumentos para me vender seriam perdidas e emboladas em poucos segundos.
Ligo o computador novamente imbuída de um desejo, ou melhor, uma questão de atitude.
Mandar o tal e-mail.
Maçã N e Multishow no Google.
Não sabia nem por onde começar.
Banco de talentos.
Tentei ver o tópico seguinte ao cadastro de dados sem preencher nada.
Não sei se alguém já se cadastrou nesses sites, mas eles te pedem todos, todoooos os seus dados, e normalmente após você preencher tudo, o tópico seguinte não aceita o que você realmente quer escrever.Logo, para não ter que passar por isso, clico em avançar.
- O campo Nome é obrigatório
Desisto, não vou ficar dialogando com um padrão único e burro no computador, aí já é demais.
Volto a página principal.
fale conosco pode ser uma boa.
Mas ao ver o tamanho do quadradinho para dúvidas, críticas e sugestões, me sinto bastante ridícula, ao imaginar o tamanho do meu enorme texto que já estava todo formulado na cabeça.
Fuxico a programação do canal, afinal, é lá que vou trabalhar, tenho que saber quem são meus futuros colegas, até então só sei da Daniele num sei lá o que, que morava no meu prédio e chamava meu ex marido para festinhas na casa dela.
Programas
Bastidores, Circo do Edgard, Lugar in comum e por aí vai.
Música, rádio, blogs.
Fecho a janela e venho pra cá.
Escrevo essa baboseira toda e resolvo tentar Luiz Ruffato.
Afinal cinco cigarros já se apagaram.

MK

Um pingo no gato

Concordo com García Márquez, quando ele diz, "se você diz que o romance está morto, não é o romance, é você que está morto". Mas na minha crônica eu reconheço que uma coisa talvez esteja acontecendo: a literatura de ficção não acabou, o que está acabando é o leitor. Poderá vir a ocorrer este paradoxo, o leitor acaba, mas não o escritor? Ou seja, a literatura de ficção e a poesia continuam existindo, mesmo que os escritores escrevam apenas para meia dúzia de gatos pingados?

Rubem Fonseca - Pensamentos imperfeitos - Revista idiossincrasia

É você que está morto?

Na ficção e na poesia,
leio as bulas de remédio que não tomo,
os cremes que não uso,
os panfletos que não me agradam
e releio as mesmas crônicas.

Será que morri?
ou sou um gato pingado?

Um pingo no gato

Quem viu a lua entrando na porta do arpoador ontem?

A lua de desenho animado, um olhar atravessado.
Dia dessses senti cheiro de casco de cavalo em plena Nossa Senhora de Copacabana.
Quando pequena, costumava ver o ferreiro cortar e lixar os cascos. Adorava o torquez.
O cheiro invadia minhas narinas e aguçava a curiosidade.
Eram duas da tarde e o vento, quase inerte, trouxe o mesmo cheiro.
Em meio a carros buzinando, pessoas apressadas e pedintes.
Parecia um sinal.
O sinal do fim dos tempos. Na mistura de referencias, do estar no lugar errado na hora errada.

Aí vem essa lua enorme me confundir e provar o contrário.

Voce viu?
Eu vi!

MK
Ontem

Faz me rir, cada vez que encaro de frente as palavras jogadas,
os respiros,
e a certeza que meus instintos trouxeram.

Tudo muito bonito!
O inferno cenográfico, a canção de beijos, o ar condicionado gélido, os passos da dança.

Só pego autógrafos de pessoas não famosas.

O outro. - Te dou meu coração
- E eu te devolvo, ou queres andar por aí sem ele? Não conseguirás!

Indiscreto sim, mas o negão anunciou - parei na Tua

Da forma pela forma e para uma grande risada disforme.

Tempo de descobrir aos poucos onde e quem realmente pulsa no mesmo pulso.
Uns falam da forma pela forma, outros contam os casos do passado, alguns idealizam um futuro de mentiras,
e muitos, muitos mesmo, batem palmas.
Batem as palmas das mãos muito depois do ápice.
Esqueceram, minimamente, da atenção aos detalhes do espetáculo.
Todos muito ocupados em como estão sendo vistos.
Nao se sabe ao certo como elas avistaram, mas avistaram, provavelmente algo bem diferente do que eles imaginavam...

A piscina rasa, de plástico, com a água transbordando pelo cimento do quintal, foi desarmada, é inverno, o sol virou um grande circo, onde os palhaços se julgam os donos do mundo, cheios de certezas e olhares. O apresentador, veste a capa vermelha e um chapéu longo. O pipoqueiro não resiste 'as crianças mais tímidas e distribui saquinhos de graça.
Na outra tenda o trabalhador leva ração na jaula errada.
O cavalo não está mais com fome.
Falta água na jaula dos macacos.

E a menina, que naquele verão se esbaldara na água gelada, batendo o queixo, tremendo os ombros, agora, não mais nas pontas dos pés, espia sorrateiramente e ri de tudo e de todos os palhaços, dos cavalos e do anão ranzinza.

Hoje é dia de agradecer, pela decepcão curta, pelo atraso do espetáculo.
Agradecer por todo o mistério que não puderam desvendar.
Ninguém entendeu nada.

E perderam o grande número.
Do lado de fora da grande tenda estava o mágico.
Ele tinha um sorriso infantil, não sabia fazer todas as mágicas, estava aprendendo, ficava nervoso e suava frio diante dos holofotes, não era o dono do próprio sapato, pegara emprestado. Ao avistar a menina escondeu suas cartas nas mangas do paletó novo, a moeda da sorte, deixou cair no chão, ela, rapidamente, pegou.
Em uma das mãos a flor murcha que ganhara de um palhaço velho, na outra a moeda.
Esticou os braços para devolver, não queria ver um mágico sem sua moeda da sorte.
Em agradecimento, recebeu um pedacinho de jornal pintado com seu rosto, por cima de todas as letras.

No mundo das simulações, longe dos espectadores, ela entendeu o que era ser intenso, na forma dos lábios sorrindo de um mágico que pintava e poucos sabiam.
Não se despediram.
No caminho de casa, ela jogou a flor no chão, guardou nos olhos o sorriso, no bolso do vestido o recorte de jornal.



MK

quinta-feira, 20 de março de 2008

Os tais vagabundos iluminados

Japhy:Bom, Coughlin, seu insuportável, o que tem feito?
Coughlin:Nada.
Alvah:Que livros esquisitos são estes aqui?Hmm,Pound, voce gosta de Pound?
Japhy: A não ser pelo fato de esse ser detestável ter acabado com o nome de Li Po ao chamá-lo por seu nome japones e toda aquela tagarelice, ele era OK...aliás, é meu poeta preferido.
Ray: Pound?Quem é que vai querer transformar esse louco pretencioso em seu poeta preferido?
Japhy: Beba mais um pouco de vinho, Smith, voce está falando besteira.Quem é seu poeta preferido, Alvah?
Ray: Por que voces não perguntam qual é o meu poeta preferido, eu entendo mais de poesia do que todos voces juntos.
Japhy: É mesmo?
Alvah: Pode ser.Voce não viu o livro de poesia novo do Ray, que ele acabou de escrever no México..."a roda da concepção tremelicante da carne gira no vazio expulsando piolhos, porcos-espinhos, elefantes, pessoas, poeira de estrelas, tolos, bobagens..."
Ray:Não é nada disso!
Japhy:Falando de carne, voces já leram o poema novo de...
Etc.etc.e a coisa afinal se desintegrou em uma festa maluca de conversa e de gritos e finalmente de canções com gente no chão de tanto rir e terminou com Alvah e Coughlin e eu tropeçando de braços dados pela calma rua universitária, cantando "Eli Eli" a plenos pulmões e derrubando o garrafão de vidro, enquanto Japhy ria parado na sua pequena porta.Mas tínhamos feito com que ele perdesse sua noite de estudos e eu fiquei mal com isso, até a noite seguinte, quando ele apareceu de repente no nosso chalézinho com uma garota bonita e entrou e disse para ela tirar a roupa, o que ela fez na hora.

parte_os Vagabundos iluminados_Jack Kerouac

Os tai vagabundos iluminados, surtados e interessantes, não sei ao certo para quem, resolveram dar o ar da graça.
E mais rapidamente ainda, as vagabundas, em excesso, estacionaram os quadris no balcão de bar, se posicionaram no centro da pista de dança, e dançaram. Uma, duas, tres, dez músicas sem ouvir o som.
A roda tremelicante de toda aquela carne estava nas pernas expostas, nas costas nuas, nos seios, nos braços e nucas brancas.Dançando do vácuo criado entre o ar que cada ser respirava enquanto a música rolava.
Não se falava de carne. A própria dialogava.
Palavras no ar rarefeito, na fumaça dos fumantes, completamente soltas no líquido transparente e presas nos copos longos.
Essa era a parte dois.

- E aí? O que voce tem feito?
- Nada.Ou um monte de nadas que acabam formando um tudo.
Clima do rapaz de calças xadrez - Eu entendo mais de arte que voces todos juntos...
E eu não entendo de nada e apenas observo.
Tagalerices a parte, cada vez mais entendo menos desse tudo.
- Voce já viu o blog do fulano?
- Ah! O trabalho dele é incrível.
Corpos e copos espalhados e poesia nas paredes, nos olhares aflitos em ver e ser visto.
Algumas pessoas queridas, algumas cores vibrantes.
Numa parte um de euforia.

A parte final, já me esqueci de comentar, ficou solta nas entrelinhas de um bilhete.


MK

segunda-feira, 17 de março de 2008

Ser coerente

coerência | s. f.
do Lat. cohaerentia

s. f.,
conformidade;
congruência;
conexão;
harmonia;
ligação;
estado de coerente.


Pouco sentido nos ouvidos


incoerência | s. f.

Estado ou qualidade de incoerente;
nesse se encontra,
tira, puxa, estica,
discordância total.

falta de coerência.
falta de zelo,
falta de vontade
apenas a coragem em estar,
estar e ser
menos,
curto,
quase ponto.

Que seja apenas um estado,
líquido e escorregadio,
envolto num lacre que se corta
com tesouras,
com as mãos,
com a boca.

Rasga o caminho de desproporção.
risca no ar as letras em circulos,
os quadrados e as metades.

E do jeito que der,
esquece essa incongruência.

domingo, 16 de março de 2008

O leite em meu peitos,
ainda,
e jorra.
Para onde fostes que não o vejo?

O leite jorra e as palavras secam,
a boca se cala falando,
e meus pés, esses, vibram ao tocar o chão gélido.
Desejam não tocar, mas marcam um ritmo.
Um ritmo sem freio, sem objeto e sem som.

As janelas estão cada vez mais fechadas.
nenhum vento bate, nenhum grito, nada.

E o leite menos denso, quase transparente
insiste em não cessar.


MK
Um trago mais forte,
um charuto aceso.
Assim não vai rolar.

Não mesmo!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Céu - Mais Um Lamento

Vai ser difícil, vai
Encontrar um amor como o seu, ai
Como dói no meu peito
Seu gosto é bem do jeito que eu gosto
Bem do jeito, lamento

Que é só mais um lamento entre tantos já feitos
quisera desse jeito lembrar de outros tempos
só pra matar um pouco a saudade
mesmo assim querendo que você não ouça
meu grito aqui de longe
minha dor, meu lamento

Supermercado

Isso mesmo querido Jabor, a arte acabou no supermercado.
Quem quer, quem pode e escolhe, consome.
Eu que não vivi os tais bons tempos,
passei o dia pensando em um poodle punk,
na falta de tinta da impressora,
na revolta de mentira,
no buraco do estofado.

E ainda assim, meu banco me ligou, para o meu celular.
Eles não estavam tentando vender nenhum serviço, tratava -se apenas de uma pesquisa com os clientes.
Deixei bem claro que não confirmaria dado nenhum.
Do outro lado da linha uma mulher falando um excelente portugues, sem nenhum sotaque regional, disse todos os meus dados, os bancários e os pessoais, como ela mesmo anunciou.
-Tenho os seus dados pessoais
-Pois não, então diga a que veio?
Perguntou se tenho algum plano especial em mente para esse ano.
- Como assim?
Algumas opções foram citadas, mas só consigo lembrar da palavra viagem.
-Claro que sim.Respondi rapidamente, mas no fundo nada de especial em mente.

Silencio na ligação.
- E voce pode me dizer qual é?
- Claro que não!
Então ela repete todo o texto, exatamente com as mesmas pausas e palavras.
- Que tipo de pergunta é essa?
Pausa
- Faz parte da nossa preocupação conhecer nossos clientes.
- Quem sabe um dia não marcamos um chopp então, voce deverá me convidar, pois não tenho o seu número.
Aí, até lá, penso em algum plano especial para 2008.
-Ah, sobre o plano especial, tenho sim e é urgente, ir ao supermercado.

E fui até o supermercado.
A minha empregada é uma artista.
Ela cozinha o broccoli al dente.


MK
Papagaios comendo filhotes de rato,
um homem de barba longa e branca,
cerca o fio de memória.

O motorista sorriu,
bom dia em italiano para o velhinho,
good morning para a loura,
falas françes?

O trocador não fala, ajeita o sapato.
38 anos e não 40.
o calçado, provavelmente 37.

Olha de rabo de olho, uma , duas, tres vezes.
Na quarta encara de frente.
Te dou 10 centavos para que pares agora.
Nem mais uma olhada.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Ontem sem conseguir postar!

Porque tudo fica melhor com amor

A preocupação ao colocar a cabeca no travesseiro, a ligacão no meio da tarde, a agua quente na barriga, a empadinha de queijo, ouvir aquela música no taxi, não conseguir se maquiar sem tremer as mãos, ir dormir tarde e acordar cedo, escrever poesia, ler drama, esquecer a chave de casa. Ir pra Búzios em pleno Carnaval, ou quem sabe a Bahia, não aí não é mais amor, é loucura.

Segundo ato: O momento são aparece, voce odeia que te liguem enquanto está trabalhando, empadinha de queijo já não tem mais o mesmo gosto desde que voce tem uns 8 anos e mesmo assim só se for aquela que a sua avó fazia.
Nada pior do que entrar no taxi e ouvir barulho, como se já não bastasse todas as vozes que voce ouviu o dia inteiro.
E ainda assim ir pra Bahia.

Pois bem meu amor, amor deve mesmo ser fundamental, mas é fato que sem bom senso, não há amor que resista.

As pessoas estão tão malucas que testam o tempo inteiro o nosso amor.
Testam na hora de escolher o filme na locadora, incrível dúvida, quarteto fantástico ou jogos mortais 5?
Enxerga alguma opção?
Fim de semana na praia da barra, no maior calor, e churrasquinho na casa dos amigos, dele, ou na serra, de frente para araucarias, sem telefone celular, Nextel e de preferencia sem calcinha?
Bater um rango em pé no Bibi, ou jantarzinho no Guimas?
Maracanã ou a peça do Pedro Brício?
BBB sei lá quanto, milésima edição ou o disco antiguinho do Egberto Gismondi?
Jantar na casa da mãe, dele, ou cozinhar juntos?

Testam o nosso amor inclusive na hora de pagar a conta.
Pago as contas sim, pago, para ter um motivo real para implicar com toda a sua falta de bom senso.

Que aí não vou ser apenas mais uma mulher reclamando do futebol, do seu ciúme, da sua burrice, um tanto quanto lugar comum.
Posso queimar seu filme, dizendo que voce é um muquirana, falar do tamanho, não assusta mais as outras mulheres.
Falou em dinheiro, na falta de, mais da metade delas corre, e quem sabe assim, sózinho, voce descobre
que tudo fica melhor realmente com amor e bom senso.

MK

Efeito do trago

No way baby!
Não esta noite!
4 horas de sono vezes sete dias igual a 28 horas.
Hoje não me alcançarás,
não me acolherás,
não me tentarás

A sua sorte é que o cigarro acabou,
a vodka não fez efeito,
o casal, por mais estranho, me emocionou.

Tens exatamente sete tragos para sair de mim.
Nas ruas, descalça, com rumo e sem chão,
a vontade do meu lugar.

Fique onde estás,
e estarei onde não estou.

Quero o sono
para deixar o cigarro de amanhã de manhã

Lá se foram cinco tragos e ainda estás.

MK

terça-feira, 11 de março de 2008

verbos A - temporais

A vontade de pegar no colo, a sensação de realidade, a concretização.
A inquietude, a falta de tesão, a necessidade dele, a falta de tempo.
A quantidade de idéias brotando.
A reação apática, a semelhança na desordem organizada.

Há cinco anos. Há alguns meses.Em alguns segundos.
Há algo.
Há o desconforto, há a falta de falas verdadeiras.
Há um olhar confuso. Há sim, pois eu vejo.
Não sei abraçar, há a vontade, mas não há o espaço.
Arrisco, e parece um abraço sem jeito, sem gosto,
arquitetado em cinco segundos.
Tenho que cuidar dessa vontade em cuidar.
Há, definitivamente uma maluquice e das grandes.
Maluquice crônica.

E nenhum tratamento de choque funcionou até agora.
Sejamos mais humildes, eu não subestimo suas palavras
e nem você as minhas.
E aí há de haver um algo.


MK

Maravilha, nossas vidas...

Há dias, circulava pela sala da casa em um short jeans curto e camiseta branca cujas alças sismavam em cair pelo ombro, a transparencia da malha realçava os pequeninos. E fazia questão de escolher cuidadosamente o figurino para parecer desleixada.
Estava em ferias escolares e passava a maior parte do dia, ao telefone, assistindo televisão, ou tomando sol na piscina.
Adorava as festas que seu pai promovia. Ele, como todo boemio bem sucedido, adorava receber e fazer de sua casa a casa de todos. Era um entra e sai constante.Todo dia vinha alguém para almoçar.Tinha bicheiro, governador, ou simplesmente um novo amigo que estaria fazendo novos negócios com ele.
Era empresário do ramo de importação e exportação, comerciante nato, nascera numa família de classe media, nos tempos em que morar em Copacabana era o máximo.
Já estava no quarto casamento e obviamente sua mulher tinha uns vinte anos a menos.

A casa vivia cheia de amigos, um dia era churrasco, no outro sessão de poker.

Paula, a mulher de Ricardo, o amigo mais mulherengo, estava sempre as voltas pela casa, toda vez que o marido saía do seu campo de visão.Sabia muito bem com quem havia casado.

Mas Marianna, uma menina, era conquistadora, não gostava de homens que se deixavam seduzir facilmente. Brincava com Ricardo, atiçava enquanto abria a porta da geladeira e pegava seu iogurte, estratégicamente colocado na última prateleira, abaixando lentamente, como quem procura algo escondido atrás de todos aqueles potes plásticos. Apenas um artifíicio para demorar mais tempo naquela posição. Sentia a respiração de Ricardo, encostado na porta da cozinha. Como quem leva um susto, vira bruscamente, e pergunta se ele deseja algo, talvez uma cerveja, ou quem sabe provar o doce de banana que ela aprendera a fazer com a avó justamente naquela tarde. Ricardo se aproxima, agradece, mas acha que cerveja e doce de banana não combinam. Pede uma cerveja. Marianna olha a boca de Ricardo, abrindo e fechando – só uma Bohemia minha linda! O que mais posso querer nessa tarde quente? – nos segundos que esta frase tomava, Marianna olhava para Ricardo, passava a lingua nos lábios, deixava a sua boca entre aberta, como já havia ensaiado várias vezes imitando as atrizes na novela a espera de um beijo. Conseguia perceber o suor caindo pela testa de Ricardo, enquanto ela esticava a mão para entregar a cerveja.
Neste exato momento, Paula aparece, agarrando Ricardo por trás, enlaçando os braços sobre seu peito. – Oi meu amor, pega uma cerveja pra mim também?
Marianna abre a geladeira. – Eu pego tia Paula!
E o casal volta para a beira da piscina.
Ricardo pensando, aliviado, - Foi por pouco...
Marianna rindo sózinha na cozinha, lembrava da expressão de Ricardo achando que ía se dar bem.Pura provocação.
Nesses churrascos, tinha de tudo. Amigos casados, suas mulheres e filhos, roda de samba, amigos desquitados, e um solteiro. Otávio.
Na verdade Otávio estava noivo há cinco anos, mas dizia que não queria se casar, gostava de morar sozinho, poder sair com os amigos e jogar seu futebol.
Marianna percebera que Otávio, o amigo que a vira crescer, e que desde pequena sonhava em ter só pra ela, de uns tempos pra cá olhava todas as vezes que ela sentava no sofá, quando, estratégicamente, ela colocava uma das pernas apoiadas na almofada, um dos pés no chão em ponta, o que ela julgava realçar a batata da perna, e outro no sofa, mostrando sutilmente a calçinha branca estampada de coracões entre as pernas. Sempre sentava assim, quando Otávio estava em casa.
Uma espécie de teste, para ver se ele estava olhando.
Mas Otávio, diferente dos outros, desviava o olhar, como quem fica sem graça em ter visto sua calcinha. Perguntava como andava a escola e se ela havia escolhido uma profissão.

Naquelas férias, tudo iria mudar.
Marianna, começou a sair com as amigas `a noite. Estavam todas em Itaipava, cidade que seu pai e muitos outros amigos tinham casa de veraneio.
Um lugar ótimo, calmo, cidade pequena, ideal para as meninas sairem sem maiores preocupações. Assim poderiam sair e voltar sozinhas a qualquer hora, pois todos na cidade eram conhecidos e realmente não existia perigo.
Era inverno, um frio de rachar os lábios e congelar o nariz.Todos saíam com aqueles casacos imensos, gorros e cachecóis.Marianna adorava o frio, achava as pessoas mais bonitas, bem vestidas, e era ótimo beber vinho e comer queijos.
A única coisa que ela achava inaceitável era sair se sentindo enorme, embaixo daqueles casacos todos. Os meninos de sua idade vestiam umas capas de time de basquete, ou de futebol, seja lá como for, ela nunca entendera que moda estranha era aquela, em ficar todo colorido, de zipper fechado até o pescoço, parecendo um balão de festa junina prestes a levantar voo. Sua diversão na noite era ignorar esses meninos, zombar deles, que ficavam do lado de fora dos bares segurando latinhas de cerveja.
Ela gostava de beber vinho, achava mais sensual segurar uma taça e sentar no balção do bar a luz de velas e pequenas luminaries na porta.
Um bar mais sério, onde a média de idade ultrapassava os vinte e oito anos.
Na entrada havia um cabideiro para deixar casacos e chapéus.
Ela gostava de se imaginar num bar de Nova Iorque, sózinha, pedindo um drink, e quando menos ela esperasse, um homem de camisa de flanela xadrez, cabelos encaracolados e calças jeans surradas apareceria e pagaria um drink.
Tirando a camisa xadrez, muitos homens faziam exatamente isso.Abordavam Marianna e perguntavam se podiam sentar, ou pagar um drink. E a resposta era sempre a mesma, as vezes em tons diferentes, mas a mesma. Ela não aceitava bebida de ninguém e dizia se sentir melhor sózinha.
Num desses dias, justamente nesse bar, ela avista Otávio.
Estava sentada em uma mesa com sua prima mais velha e alguns amigos dela.
Quando estavam de saída ele estava chegando.
Tentou convencer a prima, queria ficar mais um pouco.
Ninguém queria ficar, pois tinham uma outra festa no clube da cidade.
E ela se perguntava, logo agora que ele chegou.Já tinha esquecido da existencia dele,
Há uns dois anos não se viam. Tomou coragem e foi falar com ele.

Naquele inverno Otávio não viajara com Suzana, a tal noiva de cinco anos e se ainda existia noivado ultrapassava os sete anos. Ele estava em Itaipava curtindo a noite com um grupo de amigos mais novos.
Quando Marianna entrou na roda dos amigos dele, todos olharam, ninguém a conhecia, o que era um ponto a favor de sua sedução.Ela notara a surpresa dele, nem parecia aquele homem que se esquivava, desviava o olhar.Era um homem de camisa xadrez de flanela e naquele instante ela decidiu que ele seria dela.
Estavam conversando, mas o grupo de sua prima não aguentava mais esperar.Já eram duas da madrugada e a festa estaria no auge.Sem pestanejar, Marianna convidou Otávio para a festa. Ele sem graça, disse que talvez fosse, mas que de qualquer maneira iria passar uns dias na cidade e fatalmente se encontrariam.
Nunca foi tão difícil sair de um bar.Ela cruzava a porta de entrada, que agora era a saída, com raiva, decepção e vontade de matar a sua prima.

O clube era relativamente perto, em quinze minutos já estavam na festa.
Tudo parecia extremamente chato, a começar pela música, um samba meio pagode,
daqueles que gente do interior dança colado e se exibindo, uma festa cafona, pessoas cafonas e a bebida vinha em copos plásticos, coisa que ela definitivamente odiava.
Meia hora de festa e mais parecia uma tortura num filme de kung fu.
Do balcão do bar dava para ter a exata noção do que acontecia, iluminação péssima, nuvens de fumaça e pessoas suadas no salão. Ao som de Maravilha, nossa vidas, voce e eu que bom amar, os casais se beijavam e os encalhados perturbavam as meninas desacompanhadas. E foi ao som de umas dessas que ele surgiu.
Um chato de galocha buzinava os ouvidos de Marianna, quando ela já não sabia mais o que dizer Otávio caminhou em sua diração e com um sorriso maldoso tirou a para dançar.
Ela que nunca havia dançado pagode, resolveu aprender com o pior professor de todos, pois ele também não sabia.
Resolvera vir a festa somente para ve –la.
O grupo dela estava de partida, sua prima veio chamar, mas ela ainda estava começando a noite.
Avisou que Otávio a levaria em casa.

Dançaram, conversaram, e no carro na porta de casa, Marianna o beijou. Assim foi seu primeiro beijo.
Começava ali um caso de uma menina de treze anos com um amigo de seu pai.

MK

segunda-feira, 10 de março de 2008

Quase uma regra!

CENA DE UMA MULHER NO BAIXO LEBLON

Ela passava e todos olhavam,
falava, todos finjiam ouvir,
gesticulava o tempo todo, passava a mão nos cabelos longos,
alta, magra, sensual e feliz.
Rodeada.

Os anos passaram
ela ficava e alguns olhavam,
falava menos e poucos ouviam,
gesticulava mais, os cabelos agora curtos e ralos
alta, magra, seca, sugada pelos vampiros.
Rodando.


PICTOGRAMAS

Música aos ouvidos
Lamentos, alegrias
Explosão de todos os lados.

Só quem sabe disso é voce!
Lógico.
Como alguém mais poderia saber?
Ou voce vai se fuder
Ou presta atenção,
Ou escolhe ser feliz,
simples e direto.
Caminho com placas
claro e pictográfico

Quem ousa questionar
resta o caminho mais longo.
Torto, cheio de buracos
poréns, pode ser desse ou daquele jeito.

Contempla os caminhos longos,
com os olhos famintos de uma criança.
O corpo enérgico do anseio da bagunça
E ao final de tudo,
se achares que nada valeu
Desista!

Renda-se!
Mas não me procure

E meu marte ainda está passeando, será que resolveu ir ao BG?

Boa sorte pra ele!

Domingo em um bloco único

Que bloco é esse? Eu realmente quero passar!
Coisas antigas postadas hoje, pois hoje, eu me perdi, me perdi na praia do Leblon, como uma gringa em quilos de protetor,
óculos escuros e olhos voltados para Maria.
Ela, uma pequena menina de praia, furando todas as ondas que não nos atrevemos, levantando o polegar em comprimento a cada "brother" que chegava.Típica garota carioca aos quatro anos. E eu, nos meus tantos anos de Rio de Janeiro, observava tudo como se eu fosse a menina de quatro anos.
Corpos esculturais passando, a água que ameaça inundar suas coisas, o livro em mãos, o barraqueiro querido, a amiga presente.
A barraca que não parava quieta no buraco, o que comprovava solenemente que eu não era uma garota carioca, não tinha o suingue sangue bom.
Muitos encontros em meio a desordem total de meus cabelos, a caminhada até Ipanema.
Banho, almoço, teatro, e a janta, um caldinho de feijão.
Um bloco único de um domingo onde eu decidi ao levantar, contemplar e o mais importante de tudo:
deixar a revista de domingo pra ler na segunda. Afinal, o que tem de especial no jornal amanhã de manhã?

MK

Domingo passado em dois blocos_Bloco 2: o dormir

RESOLVI MATAR ALGUEM

Resolvi matar alguém e esse alguém não sou eu.
Um blog foi o assunto da pauta do meu dia, passei algumas horas lendo, mentira, alguns minutos que se somados podem até virar horas.O fato é que me sinto extremamente doentia escrevendo um monte de coisas e enviando por e-mail.
Aí resolvi olhar uns blogs, fiquei arrasada, pois percebi que não sei escrever.
A menina que escreve me faz morrer de rir, quando digo morrer, é lógico que é por dentro e normalmente dura alguns segundos, de qualquer maneira, ela escreve, de um jeito que vc se pergunta, por que não escrevi isso antes? Ela fala da vida, do cotidiano, de shows incríves, de encontros com pessoas mais incríveis ainda.E analisa como ninguém um bloco de carnaval onde o que voce mais deseja é poder arrancar os cabelos, como voce pode fazer com a peruca de tão quente que está.
Ela é bailarina e desliza poesia no seu andar estonteante.
Nos olhos grandes e negros diz tudo aquilo com muita sabedoria.
E o pior de tudo nem consigo invejá-la, pois ela é minha amiga e só eu sei o que eu sou como amiga.
Ela me fala - me mostra o que voce escreve- e rápidamente respondo - não gosto do que eu escrevo, a tematica é sempre a mesma.Acho que deveriam me contratar para escrever cartas de amor, mais precisamente de términos.
Acho que não há nada no mundo que me faça mais feliz.
Escrever aquela longa carta de amor ferido, onde voce termina, mas deixa na cara que ama.Estas cartas normalmente consomem horas de choro, umas tres páginas de lição de moral, uma palavra que se repete umas 30 vezes e no final voce não sabe se manda encadernar e entregar junto a um buque de flores, ou algo mais dramático, escreve umas dez
páginas e vai entregar, olha bem no fundo dos olhos daquele filho da puta que está te atrapalhando a felicidade e rasga folha por folha numa cena que provavelmente só foi prazerosa pra voce.
Fico imaginando o mesmo filho da puta catando os pedaços no chão, enquanto voce vira as costas e anda reto de cabeça erguida. O problema é que depois de tantas horas seguidas sem dormir escrevendo aquilo, provavelmente o fulano de tal nem abaixaria para pegar as palavras, e mesmo que o faça, não vai entender nada do que está escrito.
Por pouco não fui injusta e escrevo que isso nunca me aconteceu, pois bem, aconteceu, claro que a carta não tinha 10 páginas e pra falar a verdade nem era tão sofrida assim.E o filho da puta pegou, juntou, me puxou pelo braço e tentou me convencer de como eu estava fora de mim.E convenceu. O que fatalmente estragou a parte da cena de sair andando
vitoriosa, linda e plenamente com a razão.Tudo misturado, nem sei ao certo de qual filho da puta estou falando, foram tantos, e mesmo o que ele não fez, passou a ser de autoria dele, ou do outro, pode ser até do que está por vir.
Deve ser por isso que sangra, já tive muito amor, e acabo sempre por me sentir culpada, culpada por querer sempre uma loucura, uma invasão, o tal do frio na barriga.
Aí jogo fora, infernizo a vido do fulano ou simplesmente deixo de amar.
Peraí, não é bem assim, nada é tão assim, meu primo já dizia, um relacionamento é feito de duas partes, portanto não se julgue o tempo todo. Amar, só se for a dois?

Viu querida bailarina, a temática é sempre a mesma.
Começei lá em cima dizendo que queria matar alguém e essa frase me ocorreu, não por um amor, e sim por causa da falta de assunto da revista de domingo.
Não sei se vc já deu uma olhada nela hoje, mas parece que a colunista pseudo analista amorosa resolveu soltar mais uma daquelas frases de mulheres mega sucedidas amorosamente, que com muita careta e testa franzida transcrevo aqui:
Detalhe das aspas - " Só convivendo amigavelmente com a finitude, a liberdade, a solidão e a falta de sentido da vida é que conseguiremos atravessar os dias de forma mais alegre e desassombrada."
Só não transcrevo fielmente pois não sei destacar as palavras com outra cor.

Será que ela toma doses de vodka no sábado a noite, sozinha no bar,para escrever isso ! Pior, quem é o editor que deixa publicarem isso em pleno domingo, dia que provavelmente ela está fazendo compras no shopping, ou almoçando em família, enquanto eu passo os olhos nessa frase e desisto de folhear a revista, que por sinal está cheia de propagandas bizarras, inclusive a da página ao lado da coluna:
- promoção CASA NOVA- 10 x ou 12 x sem juros-
TRANSFORME SEU ALMOCO DE DOMINGO EM UM SHOWROOM DE DOMINGO
Só rindo muito mesmo, decidi, só vou ler as propagandas hoje. Afinal é a alma do negócio.

Definitivamente não levo jeito pra coisa.E definitivamente ela também não, a única diferença é que não perturbo as pessoas com toda essa baboseira.

Pra que vou me propor a escrever se a bailarina já faz isso tão bem.
Acho que devia me apaixonar mais uma vez, e provavelmente mais várias vezes, pois se tem alguma coisa que nunca é a última é a paixão, assim ao menos tenho como sempre uma estória nova pra contar a ela no próximo chopp.

Quando eu descobrir a quem matar te informo.

MK

Domingo passado em dois blocos_Bloco 1: o acordar

Taí, queria descobrir exatamente o significado de conforto.
São 3 da tarde de um domingo e todo mundo que se diz confortável está na praia, nos botecos tomando uma cerveja, ou no almoço de família.
Não me encaixo em nenhuma dessas opções.
Finjo a normalidade, levantando bruscamente, vestindo uma peça listrada que é super fashion, mas curta demais para um vestido e longa demais para uma camiseta, que acabou virando um modelito de ficar em casa se sentindo super sensual.
Minha cabeça doí horrores, culpa da vodka, descobri que não posso mais beber vodka, tomei uma dose dupla apenas e passei pro champagne,(é assim que se escreve?)
e hoje não consigo raciocinar, olhar a luz do dia, o que me dá uma sensação de desconforto, esse eu acho que sei o que é.Continuo com a pulseira da festa bombástica, na qual eu só consegui conversar com um frances, diga se de passagem um gato, falamos sobre negócios, e mesmo com todas as mulheres rebolantes no salao não levantamos da nossa mesa, afinal quem inventou que festa foi feita pra dançar , ainda mais um funk sinistro, a minha vergonha só não era maior, pois ele não
entendia o que estavam cantando, e a desgraça era olhar todos aqueles cofrinhos tatuados de fora a bordo de calças jeans com cristais. Parecia que ele estava se sentindo bem em minha companhia, afinal
passamos a noite toda conversando.sabia que ía acontecer,desde o momento que me apresentaram a ele .Eu, achando ele um gato, ele me achando interessante e a troca de cartões estragando tudo, em 3 dias eu devoraria ele.Perdeu a graça,
disse a ele sorrindo:Acho que a festa acabou.E voltei pra casa mais uma vez jogando fora a possibilidade de um beijo vazio.
Na varanda a poucos minutos, cabelos estranhamente arrumados zero de maquiagem borrada.Ontem,já bastava o salto alto e fino, a blusa que mais parecia que ía cair se eu respirasse e uma bolsa que tem que carregar na mão, resolvi sair sem maquiagem.
Agora escuto as palavras dos outros e me permito sempre a dizer:pode ser, talvez, não é bem assim, é. Finjo prestar atenção e ela acha ou finge que está tudo confortável.
Raiva do latim que precisa o tempo todo de indagações, fingir é com g e finjo é com j, regra mais idiota e desconfortável.
Ainda não descobri um conforto.A sensacão que tenho é que algumas coisas que passaram, eram confortáveis, amáveis, quase um filme de sessão da tarde.
Aliás, realmente sou uma fraude, morri de rir de mim mesma ontem.
Escuta isso:
Saí no fim de tarde de casa, disposta a assistir dois filmes, um as 19:50 o outro as 22. A caminho do cinema isso por volta das seis e pouca da tarde, uma pessoa me liga me convidando pra ir ao cinema, aviso a ele que estou indo e se ele quiser pode me encontrar lá.Chego na Gávea e tento comprar, sessão 19:50 para Juno, lotada, ligo e aviso só tem pra 20:40, ele demora 5 segundos pra responder e a minha paciencia já estava indo por água abaixo, pois o fato de ser mais tarde já acabara com os meus planos de ver os dois filmes seguidos.Me dirigi a fila novamente, 20:40, só tem um lugar!Comprei e
depois liguei e avisei, está lotado, desiste.Mais tarde a gente se fala.
Entrei na sala com uma felicidade e comecei a assistir, um filme fofo, digno de sessão da tarde.
Ao final da sessão é que a cena realmente aconteceu.
Meus olhos e minha cara estavam tão inchados de choro, que tive que ficar lendo os créditos até o final pra não sair com aquela cara após um filme tão light.
Fiquei com vergonha de mim mesma.
Uma completa fraude! Continuo rindo até agora

E me perdi novamente, qual o motivo de eu ter começado a escrever?
ou é falta do que fazer ou falta de falar com voce.
Acho que nem sei se tem algum objetivo, tem?
Estive pensando, grande novidade, queria a coragem de sair por aí, tipo morar no mato, passar um tempo na Europa, ou simplesmente casar e ter filhos, mas me falta coragem, deve ser reflexo da adolescencia,ou de um tédio gostoso.

MK

domingo, 9 de março de 2008

Alguém viu meu marte por aí?

Maldita a hora que fui me cadastrar num desses sites de astrologia.
Recebo por e-mail o link e lá está:
Uma página personalizada, com o meu nome a esquerda, meu signo solar, leão, e meu ascendente, cancer!
Meu ascedente não é cancer e nem nunca foi!
Entro na área de atualizaçao, e mudo a hora do nascimento, escrevo uma qualquer, a "máquina" me pede para confirmar a cidade, clico uma , duas, tres vezes.
E nada!Desisto.Penso em apagar o e-mail, mas não resisto e leio o tal transito.
Quem sabe ter o ascendente em cancer não seja uma coisa boa...
O título já é algo assustador

"A dinamização da libido"

Dinamização da libido?

Que diabos vem a ser isso?
Sempre achei que libido era algo que não dependia de transito e sim de como e com quem se transita,
mas deixei a crítica de lado e fui adiante na leitura

"07/03 às 15h a 12/04 às 12h
Marte em conjunção com Vênus natal"

Não sei o que é a tal "conjunção" e muito menos o "natal" em questão, mas acho bacana essa estória de Libido na astrologia ter até hora certa pra se dinamizar, ou seja 3 da tarde tudo vai mudar!

"Entre os dias 07/03 às 15h e 12/04 às 12h, o planeta Marte estará formando um ângulo harmonioso em relação ao planeta Vênus do seu mapa astral, Maíra.Este tende a ser um período particularmente positivo para o sexo, o prazer, uma fase em que você provavelmente sentirá que está irradiando um magnetismo pessoal maior, e de fato estará... Convém aproveitar o momento, circular mais, fazer-se ver, exibir-se um pouquinho não faz mal ninguém, afinal de contas. "

Afinal de contas o que?
Será que alguém circula mais, se exibe numa esquina ou num balcão de bar só porque um maldito site que sabe o seu nome te diz "convém aproveitar o momento"?
Imagino a cena, salto alto, blusa com decote e saia curta na porta da boate.Que decadencia!

"O magnetismo pessoal irradiado neste momento vai bem além da mera esfera sexual, entrando em todas as suas áreas sociais, do trabalho às amizades. As pessoas estarão percebendo em você um "tesão maior" para fazer as coisas, uma percepção de que você estará tendo mais prazer em viver a vida. E você, é claro, poderá contaminar positivamente os outros com esta qualidade, neste momento."

Ou seja, se voce não se der bem no sexo, ao menos pode ter a esperança no trabalho.Talvez aquele cliente sensacional resolva fazer o projeto inteiro e mais um pouco, claro, ele percebeu em voce um "tesão maior"...

"Redobre a atenção no período que vai de 07/03 até 14/03, Maíra, pois a Vênus celeste estará estimulando positivamente também o seu Marte. Nestes dias, boas coisas podem ocorrer no que diz respeito às suas questões afetivas e sexuais. Seu magnetismo pessoal estará com a corda toda! Que tal se produzir e ir à luta? Você está no seu momento, afinal! "

Ah, afinal estou no meu momento.
A libido está dinamizando,
o magnetismo está irradiado,
a coca-cola poderá me chamar para redesenhar a logomarca,
Venus está estimulando o meu Marte, que por sinal nem é meu, é de alguém que nasceu em outra hora.
Estou no meu momento
e continuo sem conseguir mudar a hora do meu nascimento.

Apago o e-mail e tudo volta ao normal,
eu, com o meu marte que não sei onde está, mas com certeza não é com venus
Voce viu por aí?


MK

Jenifer!

Ah sim, deixe me olhar para a Stefany!
Risos e mais risos, em coro - é Jenifeeeerrrrr!!
Realmente não há nada igual!

Festa de criança, o único lugar onde brigadeiro é brigadeiro,
mãe é mãe, pais são todo o orgulho e parabéns é realmente cantado.
Um dos meninos quase é atropelado pelo garçom, o pai mais que rapidamente retém a passagem.
As barrigas da grávidas anunciam as futuras festas.
Brancas de neve rolam pelo chão e se escondem debaixo de minha cadeira.
Nunca sei ao certo o tamanho de cada criança. Chuto dizer - Nossa, como sua filha é grande!

- ela é a menor da turma!
- ah, sei...

O fato é que não me importa se é grande ou pequena, se é esperta, ou mais timida,
são todas fascinantes, cada uma de seu jeito.Vai ver que é por isso que acho todas as crianças enoooormes!
A festa acaba e mais uma festa se inicia.

Uma hamster de nome Jenifer, realmente só vindo da Dora, e mais, levá-lo para encontrar a outra hamster, só mesmo no carro da Karen.
Esquecer as mochilas, rodar os cinemas do bairro e perder todas as sessões, acabar no Guimas e nas nossas caipivodkas,
falar sobre escolhas e preservação. E continuar a desenvolver toda a teoria vampiresca.
Está mais parecendo um comercial da mastercard, e antes que finalize assim, digo apenas uma coisa:
- Nossas vidas são sim, muito, muito interessantes!Poesia pura!

A que todas as outras coisas a campanha do mastercard se refere?


MK

sábado, 8 de março de 2008

Eram quatro da manhã, a cabeça não desligava.
Imagens vazias, emboladas em pessoas, em fatos do passado e
do presente que em um segundo já faz parte do passado.
Na Tv, último recursso para a insonia, sessão do corujão,
frases soltas e olhares que socam a boca do estomago,
esvaziam a alma cansada.
Enrijece as bochechas, comprime, sem perceber, o maxilar.
Meus dentes rangem.
A arcada superior pressiona a inferior e
anunciam: Hoje não dormirás,
não sonharás, talvez não acordes jamais.

O que foi feito some,
e surge nas papilas o gosto
do que não foi feito.
E o gosto amargo do que foi feito,
e o gosto incógnita de tudo que definitivamente não foi feito.

Uma alucinação.
Voce não é real.
Como te criei é quando vives
em mim, só em mim.

Alucinações,
podem tentar me tentar.
Há muito resolvi dormir de boca aberta.

MK

"somente nas equações do amor que alguma lógica pode ser encontrada"
DESPERTAR

Há, definitivamente, algo dentro de mim
que continua dormindo enquanto eu acordo.
Vezes mais sonolento,
vezes sono profundo
e sempre morto.
Há uma semana,
escova os dentes com listerine,
lava os pés quando não quer tomar banho
e se olha no espelho,
franzindo a testa.

O que lhe traz rugas bem marcadas e fundas.

Paçoca

Duas mulheres no recinto e um homem falando ao nextel*.
A conversa já existia quando ela, num vestido rosa, entrou no centro de depilação.

- Gostaria de fazer com a mesma pessoa que me atendeu da última vez, é possível ver no sistema o nome dela?

Uma das mulheres, a morena da recepção consulta no computador. - Sim, o nome dela é Monica

- Aguarda um pouco que ela já te chama!
- Obrigada

Tres mulheres no recinto e um homem falando ao nextel*.
Se olham e continuam a falar.

- Fala Chico, as meninas estão aqui.Só te matando mermo heim?!
Estou sendo bombardeado por todas, um monte de mulher reclamando, estão perguntando da paçoca.
Ele ri e olha para menina morena do outro lado do balcão.
As duas falam rápido e pedem pra o Chico vir trazer a paçoca.

Ela, continua sentada, esperando ser atendida.
Pensa, que diabos de paçoca eles estão falando? Será uma nova gíria, ou talvez uma antiga, para poder falar de algo ilícito?
Maconha ou cocaína via nextel*? A famosa frase de indignação lhe vem a mente - Onde nós vamos parar!-Mas resolve folhear um bloquinho com seus escritos e anota:
Paçoca!

A morena do outro lado do balcão olha para ela, ignora a presença da mulher de vestido rosa, e continua:

-Fala para ele trazer aminduim pra mim.
E o homem aperta o botão do nextel*
- Ouviu malandro a Sandra está querendo amenduim também!Ah não, não dá pra colocar no viva voz!

A outra mulher retruca.
- Ele vai trazer só pra mim!

-Tá ouvindo, estão até com ciúmes uma da outra! E aí Zilda, qual vai ser da recompensa se ele vier?

- A recompensa ele vai ver quando chegar!

E solta aquela risada alta, cheia de malícia.

A mulher de rosa continua sem saber do que se trata.Uma quarta moça vem e a chama.
Entra para fazer depilação.Distrai a cabeça com a estória de Monica e seus seis filhos.E esquece da paçoca, possível cocaína.

Na recepção paga a conta.Olha o sol através da porta de vidro, no banco está a morena e seu saco de "aminduim" na mão.


MK

*nextel, para quem não sabe, é aquele telefone rádio, que algumas pessoas sismam em colocar no viva voz em som alto e tem um alerta irritante.
Existe alguém no Rio de Janeiro que nunca tenha ouvido um pri, priiiii?

sexta-feira, 7 de março de 2008

Um se, outro dia

Se,se,se...
Tudo poderia ter sido diferente o tempo todo.
Eu poderia estar tomando café da manhá, se não estivesse, como sempre, atrasada.Poderia chegar mais cedo, se não tivesse ligado o computador.
E o jornal quase nunca, uma unidade de medida um tanto quanto safada, diga se por sinal, traz o que realmente aconteceu ontem. O que aconteceu ontem?
O motorista do onibus, estava todo sorriso, minha nega pra lá, minha nega pra cá, pára no ponto da Antero de Quental, e o fiscal parece ter sido agraciado com mesma felicidade, aliás, nunca entendi essa felicidade do pobre, quanto mais feliz ou mais puto, mais alto ele fala, e se dois deles se juntam, eu sempre fico na dúvida se eles estão brigando ou se estão confraternizando.
E continua, minha nega pra lá.
A nega sentada no primeiro assento, ao lado direito do motorista, finge de durona, faz que não cai no galanteio, mas ajeita o cabelo a cada vento mais forte, a cada mulher mais bonita que sobe as escadas, olha para ele como que tentando perceber se ele está admirando aquela mulher como ele está fazendo com ela. Corta todas as cantadas, mas no fundo acredita que tudo poderia ser verdade, tudo poderia ser de verdade.

- minha nega, voce já vai?
ah!meu onibus ficou vazio!bom trabalho, até amanhã.
E ó, num vai pegar outro amanhã não heim?!

E lá vai ela rebolante e passando a frente do motorista, dessa vez
atravessando a rua no sinal fechado, lenta, finjindo apressada
e cheia de compromissos.

- Ah essa nega...

O trocador até então quieto solta aquela risada.- Olha que um dia ela te põe na parede.
e se...

- Que isso rapaz, a nega lá de casa num troco por mulher nenhuma!
tá maluco!Amo aquela mulher.

Uma loura entra e o assunto se encerra.

MK

A MENINA E O CAVALO

Ele tentava domar um cavalo, branco, alto, cujas patacas na anca esfumaçavam o olhar da menina.
Ela olhava nos olhos do cavalo e era a única que conseguia tocá-lo.
As portas das cocheiras estavam semi abertas. Naquele longo corredor a dúvida dos passos.

A cena:O Cavalo branco de crina e pernas longas, corpo forte, pescoço largo e definido.Avistado de longe, um cavalo belo, imponente.Não era possível imaginar a sua fúria.
Naquele exato momento, por algum motivo que a menina desconhecia, o Cavalo não saía do lugar.Estava empacado.Sereno e calmo,inerte.Somente naquele ponto, entre a primeira e a terceira cocheira.O cenário, uma fazenda no meio da cidade.Eram nove cocheiras enfileiradas, todas com portas largas de madeira, paredes ásperas e o branco da tinta original se transformara em bege.No chão, rachaduras pequenas no cimento antigo deixavam brotar um matinho aqui, outro lá, algumas leguminosas ou simplesmente areia nos vãos.E lá, exatamente entre a primeira e a terceira cocheira estavam os dois.A menina de tranças, rosto rosado e o corpo um pouco mais bronzeado, calças curtas e braços finos, tão finos quanto as listras de sua camiseta, segurava o cabresto com leveza, olhando nos olhos do Cavalo, tentando convencê-lo a sair do lugar.Travavam um duelo, sutil e estranhamente inesperado.
De longe, ao final do corredor, uns sentados no banco de madeira, outros apoiados na cerca desgastada pelo tempo, estavam os trabalhadores da fazenda.Eram corpos e rostos igualmente desgastados pela lida no campo.As camisas eram desabotoadas, isso quando vestiam camisas.Um deles exibia sem querer um sorriso zombador, como se soubesse que mais dia menos dia, a menina perderia para o Cavalo.O segundo, mais velho, sentado, quieto, não falava nada, enquanto os peões riam e sentiam o prazer da possível derrota.Todos a espera do desfecho.
Sorrateiramente com passos fortes, e silenciosos, surge o administrador da fazenda.Olha com desprezo no fundo de todos os olhares, com excessão do velho sentado, e não diz nada.Pára, entre a sombra e a luz que vazava entre o telhado que cobre o corredor e a parte descoberta da cerca.Estava em frente à nona conheira e nenhum outro cavalo era avistado pelas portas de cima.
A menina olha para o fundo do corredor, percebe o corpo em sombra, digo em sombra, pois era dia, o sol de tão forte se encarregava de tornar a luz um artifício capaz de confundir as retinas. Ela sabia, sabia que corpo era aquele, sabia, simplesmente pela postura ereta, cabeça imóvel e pelo andar de poder.Calmamente, passo a passo em direção aos dois, o administrador se aproximava.E quanto mais ele se aproximava, mas a menina se desesperava, impotente, enquanto o Cavalo, imóvel permanecia.
A frente da quinta cocheira, sem olhar, apenas sentindo a respiração de um estranho, o Cavalo enlouquece, relincha e empina o corpo, fazendo com que o cabresto não estivesse mais em posse das mãos da menina.O administrador dá meia volta e desiste,
volta igualmente calmo, por dentro frustrado, mas ainda assim, de cabeça erguida e passa reto por todos os trabalhadores a caminho da casa sede.
A menina agora ofegante e completamente entregue ao Cavalo, chora, um choro decepcionado, um choro de cansaço quase calado, como quem vela um amor que se perde e não se pode sofrer.E os dois, a menina e o Cavalo voltam a travar o duelo.
Ela, agora desarmada pelas lágrimas, não sabe se permanece ou vira as costas.Ficam os dois inertes.O Cavalo olha nos olhos da menina, mas nada faz, ela por sua vez, fica cada vez mais triste, pois sabe que ele não a deixa tocá-lo nem mesmo através do olhar.
E antes que ela se entregue completamente ao desprezo do Cavalo, algo acontece,uma mulher se aproxima, observa, quer ajudar, mas ele corre, galopa, ensandecido, atropelando tudo, saltando as cercas, se embrenhando no mato e cai numa piscina, a piscina da casa sede.
A menina corre para a piscina, assiste , sofrendo, ao desespero do Cavalo, por não conseguir sair de lá.Os cascos batem na borda, não consegue saltar.Nada de um lado para o outro.Tenta sair pela margem esquerda e lá está ela, tentando lhe puxar, mas fica claro que ela não possui forças para carregar todo aquele corpo.
A mulher de longe observa, ciente de que não poderia intervir, apesar de mais forte que a menina, também não poderia sozinha, retirá-lo da água.As duas sofrem cada uma de seu jeito.A menina, desesperada, tentando de todas as maneiras, a mulher, de aparência fria, permanece calada a procura de uma solução, imagina chamar outros homens, mas desiste, pois os homens não se importavam, pensa em construir uma espécie de rede-guincho com os restos das tiras de borracha que normalmente usavam para amarrar cargas na carroça, mas fica apreensiva, pois levaria um tempo para construir, tempo esse que talvez o Cavalo não tivesse.
E ele , cada vez mais fraco se debate na água, afunda o corpo, ergue a cabeça, tenta nadar, mas as longas pernas estão cada vez mais fracas, cada vez mais finas.
De um lado da margem a menina.Do ourto a mulher, ambas impotentes.
A favor da menina, às lágrimas, em favor da mulher a frieza calculada.
E assim, nesse desespero passaram dias, noites. A menina definhava junto ao Cavalo.
A mulher sempre observando, mantinha a sua fortaleza, pensando e sabendo que ele não morreria.E elas se olhavam, uma sem entender o que aquela mulher fazia alí, parada, e de onde ela surgira.Outra observava.
No sétimo dia, a menina dormia de olhos meio abertos e não pecebia a mudança no corpo e na atitude do Cavalo. A mulher entrou na piscina, tomou o cavalo entre os braços, agora bem magro, esquálido, pequenino e frágil. Retirou ele das águas e caminhou segura, em direção à menina.Esta, sem entender, esfregou os olhos, como quem não acreditasse no que estava vendo, ficou com medo, indagou, o que faria para que ele não morresse.E a mulher lhe disse:faça uma cama de serragem bem macia, para que os ossos dele não tenham atrito com o cimento duro, não feche os olhos para a qualquer mudança, alimente ele várias vezes ao dia.
E seguiram, a menina cheia de esperanças, o Cavalo quase morto e a mulher apenas trânquila.


Maria S.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Pequeninos blocos, antigos e enterrados

PARAnóia

Todas as coisas desse quarto provável,
fechado, vazio,
trancamos todos os dias
neste estado.

Qualquer coisa de um qualquer
que vem me perturbar o silencio.
Frita a mente
continua lá.
Fala, fala, mas é nada.

Antes era só fantasia,dúvida.

Mas alimenta a minha paranóia
problemas que não são.
E continua em nada.

VELOZ

Aquieta teus vorazes impulsos
destruídos em chamas.
O zunir dos ouvidos
não pertence a nós,
vem do embalo dos outros,
lá fora , da sobra.

Inquieta na frente veloz.
Sugando a corrente elétrica
que cisma em passar
vez por hora na carga máxima.

Desacelera, pára,
caminha,
deixa fluir sem recarga.
Não sabota esse sistema
que te nutre.

OLHARES

uns se olham
outros se beijam
muitos se calam.

E assim permanecem
quietos,
alheios ao ritmo de uns,
a procura de outros.
Ao alcance de poucos.


CLASSIFICADOS

Surtei e esqueci de me internar
não avisei a ninguém
Quisera postasse um telegrama
ou pagasse um aviso
no quadro fúnebre
na capa dos classificados

calhou de o assunto ser o mesmo



MK

Pra começar

Pra começar, que uma coisa fique clara, escrevo no papel, na cabeça e no olhar.
Essa página em branco come minha vontade, pudera, nem mancha de tinta tem!
Me faço e desfaço na inquietude e foi assim, por esse único e exclusivo motivo,
que infelizmente, digo infelizmente, vim parar aqui.

Então, antes que eu desita, te peço, encarecidamente,
sem questionamentos embaraçosos,passa reto.

Estamos de acordo?


MK