terça-feira, 11 de março de 2008

Maravilha, nossas vidas...

Há dias, circulava pela sala da casa em um short jeans curto e camiseta branca cujas alças sismavam em cair pelo ombro, a transparencia da malha realçava os pequeninos. E fazia questão de escolher cuidadosamente o figurino para parecer desleixada.
Estava em ferias escolares e passava a maior parte do dia, ao telefone, assistindo televisão, ou tomando sol na piscina.
Adorava as festas que seu pai promovia. Ele, como todo boemio bem sucedido, adorava receber e fazer de sua casa a casa de todos. Era um entra e sai constante.Todo dia vinha alguém para almoçar.Tinha bicheiro, governador, ou simplesmente um novo amigo que estaria fazendo novos negócios com ele.
Era empresário do ramo de importação e exportação, comerciante nato, nascera numa família de classe media, nos tempos em que morar em Copacabana era o máximo.
Já estava no quarto casamento e obviamente sua mulher tinha uns vinte anos a menos.

A casa vivia cheia de amigos, um dia era churrasco, no outro sessão de poker.

Paula, a mulher de Ricardo, o amigo mais mulherengo, estava sempre as voltas pela casa, toda vez que o marido saía do seu campo de visão.Sabia muito bem com quem havia casado.

Mas Marianna, uma menina, era conquistadora, não gostava de homens que se deixavam seduzir facilmente. Brincava com Ricardo, atiçava enquanto abria a porta da geladeira e pegava seu iogurte, estratégicamente colocado na última prateleira, abaixando lentamente, como quem procura algo escondido atrás de todos aqueles potes plásticos. Apenas um artifíicio para demorar mais tempo naquela posição. Sentia a respiração de Ricardo, encostado na porta da cozinha. Como quem leva um susto, vira bruscamente, e pergunta se ele deseja algo, talvez uma cerveja, ou quem sabe provar o doce de banana que ela aprendera a fazer com a avó justamente naquela tarde. Ricardo se aproxima, agradece, mas acha que cerveja e doce de banana não combinam. Pede uma cerveja. Marianna olha a boca de Ricardo, abrindo e fechando – só uma Bohemia minha linda! O que mais posso querer nessa tarde quente? – nos segundos que esta frase tomava, Marianna olhava para Ricardo, passava a lingua nos lábios, deixava a sua boca entre aberta, como já havia ensaiado várias vezes imitando as atrizes na novela a espera de um beijo. Conseguia perceber o suor caindo pela testa de Ricardo, enquanto ela esticava a mão para entregar a cerveja.
Neste exato momento, Paula aparece, agarrando Ricardo por trás, enlaçando os braços sobre seu peito. – Oi meu amor, pega uma cerveja pra mim também?
Marianna abre a geladeira. – Eu pego tia Paula!
E o casal volta para a beira da piscina.
Ricardo pensando, aliviado, - Foi por pouco...
Marianna rindo sózinha na cozinha, lembrava da expressão de Ricardo achando que ía se dar bem.Pura provocação.
Nesses churrascos, tinha de tudo. Amigos casados, suas mulheres e filhos, roda de samba, amigos desquitados, e um solteiro. Otávio.
Na verdade Otávio estava noivo há cinco anos, mas dizia que não queria se casar, gostava de morar sozinho, poder sair com os amigos e jogar seu futebol.
Marianna percebera que Otávio, o amigo que a vira crescer, e que desde pequena sonhava em ter só pra ela, de uns tempos pra cá olhava todas as vezes que ela sentava no sofá, quando, estratégicamente, ela colocava uma das pernas apoiadas na almofada, um dos pés no chão em ponta, o que ela julgava realçar a batata da perna, e outro no sofa, mostrando sutilmente a calçinha branca estampada de coracões entre as pernas. Sempre sentava assim, quando Otávio estava em casa.
Uma espécie de teste, para ver se ele estava olhando.
Mas Otávio, diferente dos outros, desviava o olhar, como quem fica sem graça em ter visto sua calcinha. Perguntava como andava a escola e se ela havia escolhido uma profissão.

Naquelas férias, tudo iria mudar.
Marianna, começou a sair com as amigas `a noite. Estavam todas em Itaipava, cidade que seu pai e muitos outros amigos tinham casa de veraneio.
Um lugar ótimo, calmo, cidade pequena, ideal para as meninas sairem sem maiores preocupações. Assim poderiam sair e voltar sozinhas a qualquer hora, pois todos na cidade eram conhecidos e realmente não existia perigo.
Era inverno, um frio de rachar os lábios e congelar o nariz.Todos saíam com aqueles casacos imensos, gorros e cachecóis.Marianna adorava o frio, achava as pessoas mais bonitas, bem vestidas, e era ótimo beber vinho e comer queijos.
A única coisa que ela achava inaceitável era sair se sentindo enorme, embaixo daqueles casacos todos. Os meninos de sua idade vestiam umas capas de time de basquete, ou de futebol, seja lá como for, ela nunca entendera que moda estranha era aquela, em ficar todo colorido, de zipper fechado até o pescoço, parecendo um balão de festa junina prestes a levantar voo. Sua diversão na noite era ignorar esses meninos, zombar deles, que ficavam do lado de fora dos bares segurando latinhas de cerveja.
Ela gostava de beber vinho, achava mais sensual segurar uma taça e sentar no balção do bar a luz de velas e pequenas luminaries na porta.
Um bar mais sério, onde a média de idade ultrapassava os vinte e oito anos.
Na entrada havia um cabideiro para deixar casacos e chapéus.
Ela gostava de se imaginar num bar de Nova Iorque, sózinha, pedindo um drink, e quando menos ela esperasse, um homem de camisa de flanela xadrez, cabelos encaracolados e calças jeans surradas apareceria e pagaria um drink.
Tirando a camisa xadrez, muitos homens faziam exatamente isso.Abordavam Marianna e perguntavam se podiam sentar, ou pagar um drink. E a resposta era sempre a mesma, as vezes em tons diferentes, mas a mesma. Ela não aceitava bebida de ninguém e dizia se sentir melhor sózinha.
Num desses dias, justamente nesse bar, ela avista Otávio.
Estava sentada em uma mesa com sua prima mais velha e alguns amigos dela.
Quando estavam de saída ele estava chegando.
Tentou convencer a prima, queria ficar mais um pouco.
Ninguém queria ficar, pois tinham uma outra festa no clube da cidade.
E ela se perguntava, logo agora que ele chegou.Já tinha esquecido da existencia dele,
Há uns dois anos não se viam. Tomou coragem e foi falar com ele.

Naquele inverno Otávio não viajara com Suzana, a tal noiva de cinco anos e se ainda existia noivado ultrapassava os sete anos. Ele estava em Itaipava curtindo a noite com um grupo de amigos mais novos.
Quando Marianna entrou na roda dos amigos dele, todos olharam, ninguém a conhecia, o que era um ponto a favor de sua sedução.Ela notara a surpresa dele, nem parecia aquele homem que se esquivava, desviava o olhar.Era um homem de camisa xadrez de flanela e naquele instante ela decidiu que ele seria dela.
Estavam conversando, mas o grupo de sua prima não aguentava mais esperar.Já eram duas da madrugada e a festa estaria no auge.Sem pestanejar, Marianna convidou Otávio para a festa. Ele sem graça, disse que talvez fosse, mas que de qualquer maneira iria passar uns dias na cidade e fatalmente se encontrariam.
Nunca foi tão difícil sair de um bar.Ela cruzava a porta de entrada, que agora era a saída, com raiva, decepção e vontade de matar a sua prima.

O clube era relativamente perto, em quinze minutos já estavam na festa.
Tudo parecia extremamente chato, a começar pela música, um samba meio pagode,
daqueles que gente do interior dança colado e se exibindo, uma festa cafona, pessoas cafonas e a bebida vinha em copos plásticos, coisa que ela definitivamente odiava.
Meia hora de festa e mais parecia uma tortura num filme de kung fu.
Do balcão do bar dava para ter a exata noção do que acontecia, iluminação péssima, nuvens de fumaça e pessoas suadas no salão. Ao som de Maravilha, nossa vidas, voce e eu que bom amar, os casais se beijavam e os encalhados perturbavam as meninas desacompanhadas. E foi ao som de umas dessas que ele surgiu.
Um chato de galocha buzinava os ouvidos de Marianna, quando ela já não sabia mais o que dizer Otávio caminhou em sua diração e com um sorriso maldoso tirou a para dançar.
Ela que nunca havia dançado pagode, resolveu aprender com o pior professor de todos, pois ele também não sabia.
Resolvera vir a festa somente para ve –la.
O grupo dela estava de partida, sua prima veio chamar, mas ela ainda estava começando a noite.
Avisou que Otávio a levaria em casa.

Dançaram, conversaram, e no carro na porta de casa, Marianna o beijou. Assim foi seu primeiro beijo.
Começava ali um caso de uma menina de treze anos com um amigo de seu pai.

MK

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