domingo, 23 de março de 2008

Da forma pela forma e para uma grande risada disforme.

Tempo de descobrir aos poucos onde e quem realmente pulsa no mesmo pulso.
Uns falam da forma pela forma, outros contam os casos do passado, alguns idealizam um futuro de mentiras,
e muitos, muitos mesmo, batem palmas.
Batem as palmas das mãos muito depois do ápice.
Esqueceram, minimamente, da atenção aos detalhes do espetáculo.
Todos muito ocupados em como estão sendo vistos.
Nao se sabe ao certo como elas avistaram, mas avistaram, provavelmente algo bem diferente do que eles imaginavam...

A piscina rasa, de plástico, com a água transbordando pelo cimento do quintal, foi desarmada, é inverno, o sol virou um grande circo, onde os palhaços se julgam os donos do mundo, cheios de certezas e olhares. O apresentador, veste a capa vermelha e um chapéu longo. O pipoqueiro não resiste 'as crianças mais tímidas e distribui saquinhos de graça.
Na outra tenda o trabalhador leva ração na jaula errada.
O cavalo não está mais com fome.
Falta água na jaula dos macacos.

E a menina, que naquele verão se esbaldara na água gelada, batendo o queixo, tremendo os ombros, agora, não mais nas pontas dos pés, espia sorrateiramente e ri de tudo e de todos os palhaços, dos cavalos e do anão ranzinza.

Hoje é dia de agradecer, pela decepcão curta, pelo atraso do espetáculo.
Agradecer por todo o mistério que não puderam desvendar.
Ninguém entendeu nada.

E perderam o grande número.
Do lado de fora da grande tenda estava o mágico.
Ele tinha um sorriso infantil, não sabia fazer todas as mágicas, estava aprendendo, ficava nervoso e suava frio diante dos holofotes, não era o dono do próprio sapato, pegara emprestado. Ao avistar a menina escondeu suas cartas nas mangas do paletó novo, a moeda da sorte, deixou cair no chão, ela, rapidamente, pegou.
Em uma das mãos a flor murcha que ganhara de um palhaço velho, na outra a moeda.
Esticou os braços para devolver, não queria ver um mágico sem sua moeda da sorte.
Em agradecimento, recebeu um pedacinho de jornal pintado com seu rosto, por cima de todas as letras.

No mundo das simulações, longe dos espectadores, ela entendeu o que era ser intenso, na forma dos lábios sorrindo de um mágico que pintava e poucos sabiam.
Não se despediram.
No caminho de casa, ela jogou a flor no chão, guardou nos olhos o sorriso, no bolso do vestido o recorte de jornal.



MK

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