sábado, 11 de janeiro de 2014

Sobre "A grande Beleza", não só do Paolo Sorrentino...

Fomos ao cinema por indicação de um amigo, ao começar a festa percebi: já vi esse filme! Com uma certa irritação de quem não aceita não lembrar dos filmes. O que vem depois dessa festa interminável? Como não lembro de nada?
Pois bem, não vira o filme, e apenas a festa de relance.

Se me pedirem uma definição breve, uma sinopse, ou o que o filme retrata, dificilmente conseguirei fazer, então apenas escrevo minhas impressões e tento deixar a análise técnica em segundo plano, as comparações com Fellini e Antonioni que li de algumas pessoas, deixo para outro momento também. Os movimentos de câmera, a fotografia, a trilha, a narrativa circular, a grandiosidade de algumas, várias cenas, os planos improváveis, as freiras, deixo tudo isso para a segunda vez que assistir ao filme.

Como diria meu amigo Zé Octavio, sou existencial demais, deveria ser mais Bauhaus, mas não consigo escapar, volto com um prazer escorregadio, ao indivíduo e à sua responsabilidade em dar significado à vida, às suas paixões e explosões de mediocridade.

Apenas para situar, em Roma, o escritor Jap Gambardella (Toni Servillo) 65 anos de idade, escritor de apenas um grande sucesso, o romance "O Aparelho Humano", passa a vida entre as festas da alta sociedade. Um amor de sua juventude morre e seu marido bate a porta do escritor. E o que vem pela frente acho melhor ser descortinado na poltrona do cinema, pois não há uma linha em minha cabeça que passe pela crise do escritor e ligue ao ponto central.

Se mesmo Flaubert não conseguiu escrever sobre o nada, como eu e Jep Gambardella conseguiríamos?

Teimosa, sigo tentando, embalada pelos relances de literatura, música, artes plásticas, teatro de um funeral, pela vontade de ver o mundo da altura de uma crianca, como a anã. Pela poesia dos encontros maduros e simplifico para depois dar mais voltas: na verdade é tudo sobre afeto.

Por que é tão dificil dar afeto verdadeiro?

A respostas da arte contemporânea às inquietações e questionamentos do povo comum, também é afeto. Ou tens ou não.

Me perguntaram com qual personagem eu mais me identificava no filme, acho que com todos, cada um um pouquinho.

Me identifico com a mulher arrogante que fica apontando o dedo para as não realizações dos outros enquanto a sua realidade é toda desfocada e de reflexo torto no espelho.
Tipo quando a gente dá amor e acha que não cobra, mas manda a conta no final do mês.

Adoro o meu lado Romano, o apaixonado que só faz a peça de teatro para a tal mulher que não está nem aí para ele notar, no fundo somos todos ordinários e em busca de notoriedade, seja no amor ou no palco.

Sofro com o marido que adorava uma mulher, casados, durante 35 anos e no diário da amada ocupava apenas duas linhas, enquanto o imaginário da mulher elegia outro homem para escrever sobre. Sentimento de destruição de verdade que só quem fuxica o secreto do outro pode saber como dói, pelo outro e por você, invasor, dói por ser humano e não perfeito.

Me vejo em Jep e seus 65 anos, que gostaria de estar em todas as festas e ter o poder inclusive de fracassá-las, com a diferença de que gostaria de ter o poder de fazer todas as festas as melhores do mundo.

Me questiono se algumas pessoas realmente não foram feitas para as coisas belas, como Ramona desabafa, e torço para não ser uma delas, aceitando que para várias dessas convenções de beleza e felicidade, definitivamente virei às costas e segui por outro caminho.

Saí do cinema destruída, o desembrulhar do estômago, mesmo com doses de humor interessantes, foi feito vagarosamente, do jantar para o café da manhã, e confesso, ainda está.
Acordei com vontade de rever o filme, como quem toma um gole após um engov.

Frases soltas em sequência rápida:

Não fazer mais aquilo que não deseja, entrei nessa tem tempo, mas é uma armadilha.

Flash, corta. Ação.

Tem gente que diz ter medo de ficar sozinha, eu só não quero é ficar mais ranzinza e amarga do que já sou. Medíocres todos somos e o que faremos para nos divertir com esse mediocridade?

Acho que pescar na caixinha da boa vontade um pouco de afeto pelas lembranças, reconforta, bem como dar um sorriso de verdade aos pássaros que voam.

O equilíbrio do passado com o presente, o futuro, cortei da lista de preocupações, pois dizem que a Deus pertence.

O que você vê no espelho quando está de frente para ele?
Hoje, vejo um abismo, em 3 pontos distantes da paisagem, entre o que eu imagino que eu seja, o que eu sou e o que eu quero ser.

Buscar a grande beleza. Nem mesmo uma vida.

O amor , o afeto é observação, atenção a grande beleza, que volta e meia aparece onde menos esperamos. E não é observar apenas ao outro, mas a nós mesmos, acho.


"A existência precede e governa a essência." Jean-Paul Sartre

Então boa existência a todos nesse sábado de sol, vou dar uma reorganizada na minha meta imagem e já volto.

P.s. Se você leu até aqui, ou me ama, ou está em crise, ou não tem nada pra fazer, ou todas as alternativas anteriores, outras, por favor descrevê-las, adorarei saber os motivos.

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