domingo, 13 de abril de 2008

Vá ao teatro e me chame!

Os planos de isolamento do weekend foram por água abaixo.
Estava parecendo tão sedutor.
Já estava me imaginando, sozinha, de frente para o mar, escrevendo e tomando vinho.
O único objetivo era sair de uma atmosfera cíclica de vários acontecimentos.
Desligando o celular, sem telefone fixo, sem vizinhos, sem barulho de carro.
O fim de semana inteiro só para mim!
Sem bom dia, sem estou indo pra tal lugar, sem quando acabar o filme te ligo, ou, estou no teatro não posso atender.
Sexta-feira, e estava radiante com a possibilidade de me ter só pra mim por algumas horas.
Em um flash de cinco minutos, o trânsito dentro de um táxi, e não um trem rumo a uma cidade pequena.

Meus planos ficaram naquele sinal.
O apartamento não me parecia a casa com fogão a lenha, não dava para um campo de vegetação acinzentada em contraste com o mar azul. A casa do isolamento tinha cheiro de alfazema, de lenha queimando, tinha o apito da chaleira, janelas brancas e cortinas de voil, tapetes quentinhos sobre o piso de tábua corrida, uma porta na cozinha com a tela para os mosquitos, muitas xícaras coloridas, uma escadaria com degraus de madeira clara.
Não poderia sair numa picape velha e dirigir alguns quilômetros numa estrada escura para comprar um vinho chileno ou californiano.No máximo meu trajeto seria até o Zona Sul mais próximo, onde casais estariam fazendo compras de madrugada. O bar não teria Jukebox e muito menos mesinhas com velas e cinzeiros a postos.Todos os lugares estariam muito iluminados e cheios de pessoas siliconadas, em calças apertadas, salto- alto e copos de chopp na mão.
A visão da varanda não era um enorme paredão rochoso ao longe e sim dois prédios que teimavam em tentar estrangular minhas palavras, ao invés de olhar para o sol nascendo, seria acordada ao som de crianças e suas babás no play.
Na mesa faltava a máquina de escrever e pilhas de papel, apenas um lap top branco.
Cansei de escrever cartas em outra língua. O romance ficou suspenso por falta de palavras.
A tal casa permaneceu.A cada dia surge um objeto novo na sala de estar, uma poltrona de couro velha, um abajour com fiozinho de bolinhas de metal, e um porta retrato sobre a lareira.
As paredes ganharam um papel novo, azul clarinho em riscas. Potinhos de porcelana no banheiro e mais um livro na estante da sala.O cabideiro não tem nenhum casaco além do meu.O trem continua passando apenas uma vez a cada sete dias, num trilho meio enferrujado.Do interior do vagão, a travessa de chá a frente da janela, continuo avistando a planície dos campos, agora bem verdes, entre o bule e a xícara uma árvove reduzida pela distância. São cinco estações da metrópole até lá.
As horas passam sem perceber o fluxo sanguíneo, sem sentir a respiração.Passam, sem que se tente intervir ou controlar.
Já estive nesse trem, sozinha, e acompanhada de muitos sorrisos e afagos no cabelo.Uma linda menina falava durante todo o trajeto, sua mãe tentava conter suas falas, seus gestos, mas ela a ignorava com tamanha doçura que a mãe não tinha outra saída, dar se por vencida.
No céu apenas nuvens clarinhas e um sol gostoso aquecendo as faces.
Uma estação pequena e poucas pessoas.
Caminhando no ritmo confortável com destino definido e a ansiedade branda do aconchego.
É lá o meu refúgio.Não restam mais dúvidas.
Enquanto o trem não passa, resolvi continuar na saga da fala.

Não desliguei meu telefone.
Voltei ao Rio de Janeiro em pleno abril, quando o calor não maltrata, o sol se põe mais cedo e meu corpo não nega a vontade.

Na praia o barraqueiro e toda a sua família e a minha carteirinha de sócia, mesmo sendo branquela e indo a praia umas 4 vezes ao ano.Todas as mordomias, cadeiras, barraca de sol, filtro solar e guarda-volumes para a caminhada pela areia.
No restaurante todos os atendentes chamados pelos nomes, a comidinha gostosa, um ser que não conheço e a companhia de uma amiga.Brigadeiro de sobremesa e uma voltinha.
No balcão do bar onde compro meu maço de marlboro, o senhor antipático estava muito falante e sorridente.
Nem entendi muito bem, mas achei graça.
Sempre atrasada e correndo, teatro que engasga a fala e chora a dor da morte que nunca se cala.
A morte de uma criança, seja ela quem for, é a morte do mundo.
Um casal elegante, sim, ainda existem casais elegantes, não me perguntem o segredo ou o motivo, talvez civilidade estrangeira, ou apenas amor verdadeiro. Duas mulheres amigas.Guaraná com laranja ao invés do chá verde.
Pijamas no lugar da noite dos bares cheios de gente.



MK


Ficou muito difícil o isolamento com tanta peça pra assistir e tanta risada para dar!

Dicas do fim de semana que acabou:

Fitz Jam no Sesc, restaurante Donanna, show do Jonas Sá, Diagonal, caminhada geriátrica na praia, Dragão também no Sesc, mais pão de alho no Donanna. E a melhor de todas, selecionar muito bem a companhia!

Vá ao teatro e me chame!