sexta-feira, 4 de maio de 2012
Barbudagem no meio da música
Há tempos escrevo em meus cadernos impressões, registros, divagações sobre artistas musicais.
O fato é que tenho alguns vícios, e um deles é abrir os ouvidos ao que os outros estão cantando, tocando, sacudindo. Em palquinhos, palcões, ladeiras do rock, saraus, por onde houver música.
Muitas vezes acabo trancando esses pedacinhos de sensações nos meus esconderijos rabiscados, por preguiça, por achar que existem críticos demais por aí, falando bem, mal, analisando o som, o repertório, a afinação, a presença, o carisma e blá blá blá... ou, por ter cada vez mais a certeza de que uma opinião, é só uma opinião que pode muito bem ser gasta na mesa de um bar e ponto.
Passada a crise por gostar tanto de pesquisar música, digo pesquisar para aliviar a sensação de que não estou trabalhando, me aceitei como adicta de música e de shows.
Ontem fui ao show da Adriana Calcanhoto, e acabei puxando a ponta da toalha de uma discussão que é recorrente.
Barbudagem X Tradicional ( Nem sei ao certo se seria esse o termo, mas, algo popular, conteúdo musical aceito por músicos experientes, que não são taxados de modernos.)
Brincamos, entre amigos músicos, que uma banda barbuda deve ter ao menos uma pessoa usando óculos ray-ban (wayfare de preferência) uma camisa xadrez, e ter algum istrumento "brinquedinho" de criança. Banda Moderna, com conceito estético pensado, algumas músicas e letras estranhas, vez por outra fofas. Talvez o monsieur Gastão possa explicar melhor o termo, na questão musical, eu, consigo detectar bem apenas o visual e um ou outro acorde.
Voltando ao show: No palco Adriana Calcanhoto lançando o DVD "Micróbio Vivo" cercada de três músicos excelentes, barbudos ou não, Davi Moraes (violão, cavaquinho), Alberto Continentino (baixo acústico) e Domenico Lancellotti (bateria). No repertório, algumas músicas que me chamaram a atenção:
"Mais perfumado", "Já Reparô?( que no meu pequenino querer, adicionei ao playlist), as duas músicas da própria Adriana. "Esses Moços" do Lupicínio Rodrigues, "Argumento" do Paulinho da Viola.
Alguma coisa ela tem, que me traz a impressão de uma certa cortina, não é dessas cantoras expostas, mais reservada, porém tem um quê de inquietação, usou secador de cabelo para descabelar as partituras, e manteve os seu cabelos presos num penteado perfeitamente "geloso", sacodiu xícaras, raspou pratos, tirou som de onde não se esperava, como quem diz ao público, nas palavras do Paulinho da Viola -"Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado de quem não quer navegar".
Naveguei. Foi um bom show. Eu não sou do samba e vou ao samba, eu não sou do maracatu, mas balanço os ombrinhos, não sou fã da Calcanhoto, mas me diverti, sendo ela moderna ou não. Se assitiria novamente, não sei, também, não importa, uma opinião é só uma opinião, esperem pela hora do chá!
Só acho que já passou da hora de nos libertarmos desses conceitos de onde você pode ou deve circular, do que você deve ou não escutar.
Me incomoda sim, dizer em uma roda de amigos cools, que a Maria Gadú é uma puta cantora, que depois de Cassia Eller, ficou complicado para mim e agora, só porque ela ganha muito dinheiro fazendo o comercial da Nextel, que eu nem vi, só porque toca no Saara, na Globo, no raio que o parta, ela já não pode ser aceita por algumas pessoas. Me incomoda, não pela a diversidade de opinião, e sim por desconfiar que essa liberdade moderna, cool, está aprisionando muita gente nas suas escolhas. Mainstream ou underground, bom, ou ruim, tudo isso é relativo. O mundo não é o Rio de Janeiro e o carnaval nem sempre cai em fevereiro.
"Muderno" é experimentar brincar de verdade, moderno e livre é tentar entender e aceitar a diversidade das coisas.
"Muderno" é estar atento e forte, e poder estar disperso e fraco sem ser apedrejado por tiranos dessa modernidade líquida. "Muderno" é ver barbudos tocando com tradicionais.
Então para quem ainda está nessa, só digo uma coisa: Na briga entre barbudos e tradicionais, vence quem se diverte!
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p.s. um do show: A casa de shows Miranda, tem um ótimo som, o serviço impecável, nivel São Paulo de ser, uma vista incrível. Há quem diga que é caro, mas acho mais honesto dizer, é caro para mim. O espaço é pequeno, então, como assistir a artistas grandes e cachets altos sem cobrar por isso? Fui com amigos e brincamos que teríamos que beber depois, mas me deparei com R$ 18,00 a dose de black label, não acho barato, mas é o preço praticado em muitos outros lugares no atual Rio de Janeiro. Outro dia paguei R$ 17,00 no red no Boteco taco, aí sim, há de convir é um assalto.
p.s. dois do show: a Banda é muito, muito boa.
P.s. três de mim mesma: sou barbuda, mas não sou fofa!
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